PAN - UM NOVO PARADIGMA

Vivemos o fim de ciclo de um paradigma civilizacional esgotado, o paradigma antropocêntrico, cuja exacerbação nos últimos séculos aumentou a devastação do planeta, a perda da biodiversidade e o sofrimento de homens e animais. Impõe-se um novo paradigma, uma nova visão/vivência da realidade, ideias, valores e símbolos que sejam a matriz de uma nova cultura e de uma metamorfose mental que se expresse em todas as esferas da actividade humana, religiosa, ética, científica, filosófica, artística, pedagógica, social, económica e política. Esse paradigma, intemporal e novíssimo, a descobrir e recriar, passa pela experiência da realidade como uma totalidade orgânica e complexa, onde todos os seres e ecossistemas são interdependentes, não podendo pensar-se o bem de uns em detrimento de outros e da harmonia global. Nesta visão holística da Vida, o ser humano não perde a sua especificidade, mas, em vez de se assumir como o dono do mundo, torna-se responsável pelo equilíbrio ecológico do planeta e pelo direito de todos os seres vivos à vida e ao bem-estar.

Herdando a palavra grega para designar o "Todo", bem como o nome do deus da natureza e dos animais, o PAN - Partido pelos Animais e pela Natureza - incarna esse paradigma na sociedade e na política portuguesas.

O objectivo deste blogue é divulgar e fomentar o debate em torno de contributos diversos, contemporâneos e de todos os tempos, para a formulação deste novo paradigma, nas letras, nas artes e nas ciências.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

"A economia tende a absorver toda a ética..."

"As políticas económicas absorvem quase por inteiro a atenção dos governos e tornam-se, ao mesmo tempo, cada vez mais impotentes. (...) Quanto mais rica é uma sociedade, menos possível se torna para ela a produção de coisas de valor, sem uma retribuição imediata. A economia tornou-se de tal modo escravizante que absorve quase integralmente a política externa. As pessoas dizem, "Ah, pois, nós não gostamos dessa gente, mas estamos economicamente dependentes deles e, por isso, temos de lhes fazer as vontades". A economia tende a absorver toda a ética e a tomar procedência sobre todas as outras considerações humanas. Ora é bem claro que isto é um desenvolvimento patológico (...)"
- E. F. Schumacher, "Small is beautiful", Lisboa, Dom Quixote, 1985, 2a edição, p.62.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

"O circo ensina as crianças a rir da dignidade perdida dos animais"

"O circo ensina as crianças a rir da dignidade perdida dos animais. Neste caso, a "humanização" dos bichos reflecte claramente a falta de humanidade das pessoas projectada num macaco de vestido, camuflada sob os risos"

- Olegario Schmitt (escritor, poeta, fotógrafo; Brasil, 1976)

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

"(...) quando se trata de animais, todo o homem é um nazi"



"Há muito chegara à conclusão de que o tratamento do homem para as criaturas de Deus torna ridículos todos os seus ideais e todo o pretenso humanismo. Para que este estufado indivíduo degustasse seu presunto, uma criatura viva teve de ser criada, arrastada para sua morte, esfaqueada, torturada e escaldada em água quente. O homem não dava um segundo de pensamento ao facto de que o porco era feito da mesma matéria e que tinha de pagar com sofrimento e morte para que ele pudesse saborear sua carne. Pensei mais de uma vez que, quando se trata de animais, todo o homem é um nazi"

- Isaac Bashevis Singer

"[...] o vegetarismo é um sinal precioso, apenas um aspecto duma renovação social profunda"




"Convençamo-nos de que o vegetarismo é um sinal precioso, apenas um aspecto duma renovação social profunda; aceitemo-lo em todas as suas consequências e vejamos nos seus benefícios os frutos elementares da grande aspiração de alegria e paz entre os homens e sobre a terra para que a humanidade ansiosamente se encaminha"

- Jaime de Magalhães Lima, O Vegetariano: Mensário Naturista Ilustrado, III Volume, Fevereiro de 1913, p.459.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Como poderemos nós ser deuses se os animais são exatamente como nós?


A questão é que um ganso ou outro animal podem constituir uma violenta amálgama de emoções. Os sentimentos podem "estar estampados na sua face" e bastará apenas uma certa prática para interpretar o que nela se encontra impresso. Somos unicamente restringidos pela ignorância, falta de interesse, ânsia de exploração (tal como pretender comê-los) ou por preconceitos antropocêntricos que nos impedem, como por desígnio divino, de reconhecer pontos comuns onde estes possam existir. Como poderemos nós ser deuses se os animais são exatamente como nós?

In Masson, J. e McCarthy, S. (2001). Quando os elefantes choram. Cascais: Sinais de Fogo, p. 60.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

"Os animais têm todos a sua vida própria e nenhum deles jamais nasceu para alimentar o homem"

‎"Os animais têm todos a sua vida própria e nenhum deles jamais nasceu para alimentar o homem; este é que pensa quase sempre não ter nascido para outra coisa que não seja comer, e assim, depois de ter provado de tudo, quis também ensaiar a carne e fê-lo, e, como gostasse, continuou, sendo muito para supor que um dia faça o mesmo ao seu semelhante que, de resto e figuradamente, há muito já que vem comendo"
- Luís Albino da Silva Leitão (escritor, jornalista e filantropo, director da "Revista do Bem" e do "Anuário Comercial", 1866-1940).

"Os que são sanguinários com os bichos, revelam uma natureza propensa à crueldade"



“Quanto a mim, nunca pude sequer ver perseguirem e matarem um inocente animal, sem defesa, e do qual nada temos a recear, como é o caso da caça ao veado, o qual, quando sem fôlego e sem forças, e sem mais possibilidade de fuga, se rende e como que implora o nosso perdão com lágrimas nos olhos: “gemendo, ensanguentado, pede misericórdia” [Virgílio]. Um tal espectáculo sempre me pareceu muito desagradável.
Se apanho algum animal vivo, dou-lhe liberdade. O mesmo fazia Pitágoras que comprava peixes e pássaros para os soltar: “Foi, creio, como o sangue dos animais que o ferro se tingiu pela primeira vez” [Ovídio]. Os que são sanguinários com os bichos, revelam uma natureza propensa à crueldade. Quando se acostumaram em Roma com os espectáculos de matanças de animais, passaram aos homens e aos gladiadores.”

- Michel de Montaigne, Ensaios, Livro segundo, Capítulo XI, "Da crueldade"