PAN - UM NOVO PARADIGMA

Vivemos o fim de ciclo de um paradigma civilizacional esgotado, o paradigma antropocêntrico, cuja exacerbação nos últimos séculos aumentou a devastação do planeta, a perda da biodiversidade e o sofrimento de homens e animais. Impõe-se um novo paradigma, uma nova visão/vivência da realidade, ideias, valores e símbolos que sejam a matriz de uma nova cultura e de uma metamorfose mental que se expresse em todas as esferas da actividade humana, religiosa, ética, científica, filosófica, artística, pedagógica, social, económica e política. Esse paradigma, intemporal e novíssimo, a descobrir e recriar, passa pela experiência da realidade como uma totalidade orgânica e complexa, onde todos os seres e ecossistemas são interdependentes, não podendo pensar-se o bem de uns em detrimento de outros e da harmonia global. Nesta visão holística da Vida, o ser humano não perde a sua especificidade, mas, em vez de se assumir como o dono do mundo, torna-se responsável pelo equilíbrio ecológico do planeta e pelo direito de todos os seres vivos à vida e ao bem-estar.

Herdando a palavra grega para designar o "Todo", bem como o nome do deus da natureza e dos animais, o PAN - Partido pelos Animais e pela Natureza - incarna esse paradigma na sociedade e na política portuguesas.

O objectivo deste blogue é divulgar e fomentar o debate em torno de contributos diversos, contemporâneos e de todos os tempos, para a formulação deste novo paradigma, nas letras, nas artes e nas ciências.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Que sentido para Portugal? Uma nova civilização, a panconsciência, consciência global: Nova Aliança homens-animais-Terra

Desde a fundação até hoje, Portugal tem vivido em busca de expansão externa, primeiro político-territorial e religiosa, a expansão da Fé e do Império, depois comercial e colonial. Primeiro o nosso horizonte foi África, depois o Oriente, a seguir o Brasil e finalmente a Europa. De colonizadores passámos a colonizados e hoje somos um território, um povo e uma cultura ocupados pela grande finança internacional, não só europeia e norte-americana, mas também chinesa, entre outras. Pouco ou nada nos resta, a não ser nós mesmos. E é de nós mesmos que temos de recomeçar, refundando uma nação e um novo tecido sócio-cultural e económico-ecológico a partir da consciência ética profunda e universal, que nada nem ninguém exclua, homens, animais e planeta. O velho Portugal está morto, mas um Outro Portugal ressurge nos mais conscientes de nós, que temos de dar tudo pelo novo grande imperativo: a expansão da consciência, uma Nova Aliança entre o homem, os seres vivos e a Terra, o abraço armilar ao que em todos os povos, nações e culturas haja de melhor e convergente para o mesmo fim. Foi isso que Luís de Camões, Padre António Vieira, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva visionaram como o Quinto Império, um Império não do domínio, mas do espírito e da cultura. Uma nova civilização, não a da globalização económica, tecnocrática e mediática, mas a da consciência global. O novo grande desafio e imperativo, a imensa e Nova Descoberta, é a da expansão da consciência: a panconsciência.

O setembrista e as corridas de touros

A partir da primeira metade do século XIX, estas ideias [de defesa dos direitos dos animais] levaram à fundação de sociedades protetoras dos animais e à aprovação de leis contra a crueldade com estes. Portugal não foi excepção. A 19 de Setembro de 1836, Passos Manuel, então ministro do reino, aboliu as corridas de touros, por as considerar "um divertimento bárbaro e impróprio de nações civilizadas". Contudo, a medida só vigorou durante nove meses, sendo revogada pelas Cortes a 27 de Junho de 1837.

in Teixeira, L. H. (2012). Verdes anos: História do ecologismo em Portugal {1947—2011}. Lisboa: Esfera do Caos (p. 236).


Se, neste domínio, tivesse vigorado a inteligência e sensibilidade de Passos Manuel, teríamos hoje um Portugal mais compassivo e civilizado sem divertimentos bárbaros e impróprios de nações civilizadas.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

"Verdes Anos": o PAN já faz parte da história do ecologismo em Portugal



O livro Verdes Anos. História do ecologismo em Portugal (1947-2011), de Luís Humberto Teixeira (Lisboa, Esfera do Caos, 2011), será apresentado pelo Prof. Viriato Soromenho-Marques na 3ª feira, dia 31 de Janeiro, às 18.30, na Livraria Bulhosa de Entrecampos. Este livro dedica o capítulo 8 ao PAN e ao seu resultado surpreendente nas últimas eleições legislativas. Reproduzimos os três últimos parágrafos do livro, após se referir o historial de adversidade de Portugal e dos países do Sul da Europa aos ideais ecologistas:

"Perante este ambiente hostil, como se explica então o sucesso do PAN, que nas primeiras eleições legislativas a que concorreu obteve mais de 50 000 votos em listas próprias (feito inédito entre os partidos ecologistas portugueses) e quatro meses depois elegeu um deputado em eleições regionais?

Será um epifenómeno ou será que o segredo para o sucesso de um partido verde em Portugal passa por unir a defesa do ambiente aos direitos dos animais e às causas humanitárias?

Para responder a estas questões teremos de esperar mais algum tempo. Entretanto, uma coisa é certa: por mais negro que seja o cenário do país e do planeta, muitos acreditam que a cor da esperança ainda é o verde"

Cabe-nos mostrar que o "segredo" é mesmo esse e que o PAN veio para crescer e ficar.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Quem é o meu próximo?

“Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus, 22, 39). Quem é o meu próximo? Aquele que pertence ao mesmo grupo familiar, local, social, económico, nacional, étnico, cultural, linguístico, político ou religioso? Aquele que pertence à mesma espécie, ao mesmo planeta ou à mesma galáxia? Ou o meu próximo é aquele de quem me sentir próximo, ao ponto de o não sentir separado de mim nem a mim separado dele? O meu próximo tem então de ter duas pernas e dois braços ou pode ter quatro patas, muitas, nenhuma, caule, tronco, folhas, flores e frutos? Tem de ter cabelos e pele quase nua ou pode ter pêlos, penas, couraça, escamas e casca? Tem de viver sobre a terra ou pode rastejar dentro dela e voar e brilhar nos céus? Tem de ter uma vida individual ou pode ser a própria terra, as areias, as rochas, os minérios, as águas, os ventos, o fogo e as energias que em tudo isso habitam? Tem de falar a minha linguagem ou pode miar, ladrar, zumbir, uivar, cacarejar, grunhir, mugir, relinchar, rugir, trinar, grasnar, trovejar, soprar, relampejar, chover ou florir, frutificar, repousar e mover-se em silêncio? Tem de ter forma e ser visível ou pode não ter forma e ser invisível? Tem de ter vida consciente e senciente? Tem de ter vida? Tem de ser algum ser ou coisa ou pode ser tudo? A empatia, o sentir em si o outro como o mesmo, a compaixão, têm limites? Temos limites? Conhecemos a fronteira do que somos? Ou só o medo nos limita? O medo de tudo o que há. O medo do infinito e da vasta multidão que somos.

domingo, 22 de janeiro de 2012

"O homem não sabe mais que os outros animais; sabe menos. Eles sabem o que precisam saber. Nós não"



- Fernando Pessoa

Para uma ética da compaixão

"(...) o fenómeno quotidiano da piedade, desta participação totalmente imediata, sem nenhum segundo pensamento, primeiro nas dores de outrem, depois e em seguida na cessação, ou na supressão destes males, pois reside aí o fundo último de todo o bem-estar e de toda a felicidade. Esta piedade, eis o único princípio real de toda a justiça espontânea e de toda a verdadeira caridade. Se uma acção tem um valor moral, é na medida em que dela procede: a partir do momento em que tem outra origem, já não vale nada. Desde que esta piedade desperta, o bem e o mal de outrem tocam-me no coração tão directamente quanto me toca em geral o meu próprio bem, se não com a mesma força; entre este outro e eu, então, não há mais diferença absoluta.
(...) Nestes momentos, esta linha de demarcação, (...) que separa o ser do ser, apaga-se: o não-eu torna-se até certo ponto o eu"
- Schopenhauer, "O Fundamento da Moral".

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

"Os animais do mundo existem para os seus próprios propósitos. Não foram feitos para os seres humanos..."



"Os animais do mundo existem para os seus próprios propósitos. Não foram feitos para os seres humanos, do mesmo modo que os negros não foram feitos para os brancos, nem as mulheres para os homens"
- Alice Walker

"Amarás o teu próximo como a ti mesmo" - porque se limitou o "próximo" ao homem?



"Amarás o teu próximo como a ti mesmo" - Mateus, 22, 39.
A grande questão é: porque se limitou o "próximo" ao homem? Porque não sentir, assumir e amar como "próximo" o universo e como "próximas" todas as formas de vida, em particular as conscientes e sencientes? Essa é a grande Revolução por vir, a do amor universal, que no íntimo de cada mente já começa.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

“O repouso de um gato ao sol é a mesma coisa que a leitura de um livro”



“O repouso de um gato ao sol é a mesma coisa que a leitura de um livro” - Fernando Pessoa, "A Hora do Diabo".

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A Ética e a Política

As reflexões que agora reduzo a escrito foram espoletadas pela presença na manifestação de ontem contra a venda da EDP [a uma empresa tutelada pelo governo chinês] e a favor de ética na política, na qual participei.

A exigência de ética política pode parecer um lirismo ingénuo e irracional, nos tempos que correm e na nossa sociedade utilitarista e economicista, onde está implícito que a ética seja última das preocupações.

Não pensamos assim. Pelo contrário, entendemos que a ética deve ser a primeira de todas as considerações, por marcar a mais importante de todas as fronteiras e o critério de avaliação das escolhas políticas e dos seus actores.

Como ficou claramente esclarecido, não se ataca minimamente o povo da China, e muito menos a sua respeitabilíssima cultura multimilenar - estando apenas em causa as práticas do actual governo chinês e a decisão do governo Português na venda de capital da EDP. Por isso mesmo, tem especial cabimento citar um grande sábio da China ancestral (Confúcio): “Já vi pessoas incapazes da ciência; mas nunca vi nenhuma incapaz da virtude”.

Ora, antes de exigirmos que as acções políticas sejam competentes e tecnicamente eficazes, há que esperar que sejam virtuosas, de acordo com valores éticos. A competência técnica destituída de princípios, de valores, pode levar às criações mais hediondas, como a história nos mostra claramente (e, de resto, o actual sistema chinês é disso exemplo manifesto).

Não basta, é certo, a boa intenção, sem um conhecimento adequado e sem uma actuação lúcida. Mas muito pior ainda, e de todo inaceitável, por nos expor (a tudo e a todos) aos riscos mais extremos, são as decisões que ignoram e espezinham a ética, convivendo sem consciência com os que são capazes das maiores violências, atrocidades e desrespeitos para com a Vida.

Tal certamente, é o caso do regime chinês, que tem uma reiterada prática de desrespeito pelos direitos e valores fundamentais, de perseguições, de crimes e de intolerância para quem se desvia um pouco do que é ditado como “doutrina oficial”. Em termos externos, há décadas que vai sujeitando à sua tirania e a abusos e arbitrariedades de todo o género, um país e um povo inteiro – o do Tibete –, prosseguindo sistemática e implacavelmente o genocídio da sua população e da sua cultura – apesar de esta ser reconhecidamente pacífica e gentil.

Só a completa despreocupação com a ética é que permite negócios com um governo que está a promover uma outra invasão, à escala global, dominando os recursos económicos de inúmeras nações, quase continentes inteiros. Perante isto, as ditas democracias liberais permanecem indiferentes, cabendo-nos perguntar se só despertarão quando os pesadelos que agora atormentam alguns menos imediatistas no seu pensamento se tiverem volvido em realidades brutais. Mas onde não ética, até as incoerências parecem não envergonhar. É assim que essas democracias liberais (e capitalistas), que outrora censuravam o regime chinês, agora podem com ele andar de braço dado. É assim, também, que se pedem (exigem!) sacrifícios, poupanças e restrições ao consumo, quando jamais se censurou, antes se admiram com fascínio, os incentivos ao consumismo. É assim, igualmente, que o regime socialista-comunista chinês desenvolve o mais formidável e agressivo sistema capitalista. Tudo, sempre, orientado para “sacar”.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Fraternidade



Uma imagem do caminho a seguir, para uma nova humanidade. Inverter o antropocentrismo e socorrer todos os seres.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Maquiavel sobre a conquista e conservação de estados



"Quando os estados que se conquistam [...] têm a tradição de viver segundo as suas leis e em liberdade, para a sua conservação existem três opções: a primeira é a sua destruição; a segunda é ir para lá viver o príncipe conquistador; e a terceira consiste em deixá-los viver de acordo com as suas leis, mas exigindo-lhes um tributo e criando no seu seio uma oligarquia que vos garanta a sua fidelidade"
- Maquiavel, O Príncipe, cap. V.

O que se passa no mundo, e particularmente em Portugal, não é nada de novo...

Mensagem de Pedro Valdjiu, dos Blasted Mechanism, de apoio à manifestação de 10 de Janeiro




Portugal está a ser vendido aos retalhos, e o desafio de quem os compra será o mesmo de quem os vende, isto é, acalmar e domar as visões imperialistas bem dominadas pelo EGO.
A coser esta manta de retalhos fica o suor sagrado dos Portugueses, cada vez mais cabisbaixos e desolados por tamanha farsa e domesticada dormência.
Não há na história relatos de quem tenha levado consigo ouro depois de terminada a vida e os dirigentes deste pequeno rectângulo e da esfera terrestre agem como se o mundo acabasse amanhã. E alguma razão têm, pois o seu Mundo ou melhor o iMundo (em breve nas lojas apple) vai de facto terminar depois de amanhã!
A economia financeira passará a economia de recursos, ou seja, poupar o Planeta Mãe e com ele todas as espécies.
- Afinal seria esse o papel das economias, o de poupar, não é assim??
E dentro das espécies poupadas estará o novo Homem, aquele que entretanto ancorou a sua consciência no coração, longe das auto-estradas de informação a que o cérebro tanto nos sujeita criando esta grande cacofónica confusão a que muito chamam de civilização. Prefiro chamar-le somente destruição.

Desce agora à Terra a necessidade de abraçar os movimentos globais como o da permacultura, das cidades em transição, os que despertam consciências, as novas/antigas medicinas, novas pedagogias, os direitos humanos e animais, etc., abraçando assim a verdadeira cultura humana, a cultura do AMOR, a si mesmo, ao próximo e a toda a Vida no Cosmos
- Ou estaremos mesmo a sós na escuridão galáctica??
Cabe então a cada indivíduo encabeçar a sua própria Re-Evolução e pôr fim a uma queda involucionista onde o poder está sempre nas mãos dos outros e o Ter tomou o lugar do SER.
Aquilo a que chamamos evolução não nos serve mais, pois evoluir para o abismo é pura e simplesmente involução.
Queremos energias limpas, águas limpas e corações puros na Terra, para que possamos continuar ou quem sabe até sair da grande Roda (samsara) com as mãos limpas também!

Aos que cá nos mandam emigrar, fica o apelo para que olhem para os seus filhos e netos, e mesmo ao espelho vejam o poder da mutabilidade, ou seja, abracem a ideia de que nada levarão de material aquando da chegada da sua morte.

Aos chineses:

- Existe no vosso país toda uma cultura incrível de saber antigo, as medicinas, a gastronomia, o taoismo, porque não partilham o que têm de melhor??
Infelizmente o que nos chega da China é a máquina de destruição de um império que não olha a Terra, o Homem e os Animais com o mínimo de respeito.
Um império que em pleno século XXI invade territórios à lei da bala exterminando uma das culturas mais avançadas e amorosas da Terra.
Só vos posso dizer :
- Perdoai-os, SS Dalai Lama, pois não sabem o que fazem.
Primeiro o Tibete, agora o Porto do Graal…
Que profunda vergonha.

Quanto a mim mesmo, só me resta olhar ainda mais para dentro e curar-me. Se o mundo vai doente, em mim existe essa mesma doença.

um só Homem faz a diferença
aparece dia 10.

Pelo futuro que estes presentes anunciam (mensagem da escritora Manuela Gonzaga de apoio à manifestação de dia 10)




Na impossibilidade de estar aqui convosco, venho apoiar esta iniciativa do PAN, e o seu presidente, meu querido Amigo Paulo Borges, juntando-me a todos vós por palavras e intenção. Deixem-me alargar um pouco este âmbito e saudar igualmente o Povo Chinês que divorcio da prática dos seus lideres e que abraço calorosamente na causa comum.
É um alerta para este perigo que nos une, aqui e no mundo. A electricidade de Portugal foi vendida a uma potência estrangeira. Uma parte, para já.

Ora essa potência demonstra, no seu próprio território, a maior indiferença e a maior crueldade contra as populações que se atravessam no rumo da «prosperidade» colectiva que os seus governantes traçam. Uma prosperidade que acerta o passo pelo comportamento tentacular e devastador de várias multinacionais, cujo crescimento está na razão directa da tragédia global que todos os dias destrói irreversivelmente a nossa casa. Uma tragédia orquestrada por meia dúzia de famílias económicas que estão a exaurir os recursos da Terra.

Nada os detém. Patrimónios, florestas, rios, mares, ambiente, o extermínio de espécies, a aniquilação da biodiversidade são, no seu léxico, palavras mortas e conceitos insensatos. O lucro e o poder em meia dúzia de mãos é o seu único objectivo.

Neste aspecto, a República Popular da China tem afinado as suas práticas económicas pelo mesmo diapasão. Arrastando pelo mundo as redes de uma ganância sem limites, deixando atrás de si populações devastadas e o nosso planeta destruído por anos, séculos ou milénios. Estas práticas ancoradas no puro lucro – logo contra o ambiente, logo contra a natureza, e, numa cadeia irrefutável de causas-efeitos, logo contra o Ser Humano – nada têm de benéfico.

Não vou repetir o que tantas organizações têm vindo a alertar, desde a Amnistia Internacional às Ligas de Defesa do Ambiente. Assinale-se apenas o que todos sabemos de cor. As práticas do capitalismo chinês sob a capa de uma política socialista têm acobertado uma vastíssima lista de atentados contra as populações mais frágeis da Republica Popular da China. E para melhor garantir a impunidade destas acções, somam-lhes outras. A perseguição implacável contra os que ousam denunciar ao mundo estes crimes. Fazendo tábua rasa de um dos mais preciosos patrimónios imateriais do mundo civilizado. Os direitos humanos e o consequente direito à liberdade de expressão.
Em suma. Portugal vendeu à China uma parte da electricidade de Portugal que é um bem fundamental dos portugueses. Por um pouco menos dinheiro podia ter alienado esta parte do nosso património a parceiros que nos garantiriam subscrever Direitos Humanos e respeito pelo Ambiente. Porque não o fez?

Assim, e com a entrada no nosso território da corporação chinesa cuja lista de atentados ambientais é aterradora, quem nos garante que, futuramente, não se pratiquem em Portugal perseguições e acções contra os cidadãos que irão seguir atentamente a prática destas empresas? Para já, a Amnistia Internacional alertou para a possibilidade de graves problemas ambientais, de direito à habitação e ao trabalho decorrentes da venda da participação portuguesa da EDP à chinesa Three Gorges Corporation.

E a somar-se a esta ameaça perfilam-se outras.
A alienação da água e de parte significativa da rede dos transportes. E não se fica por aqui. Quando será a vez do mar? E a do ar? E do resto da terra e dos recursos que ainda mantemos? É esse o futuro? Vender a quem dá mais mesmo que quem dá mais configure a pior das ameaças aos nossos direitos humanos e ao nosso território? Como podemos deixar que tal aconteça?

Só há uma resposta. Não podemos.

E exigimos por parte de quem nos governa que se comporte como tal assumindo responsabilidades governativas e não de mera gestão. Dando-nos conhecimento do que se passa, em vez de nos colocar perante factos consumados de uma política de deve-e-haver na lógica do quem dá mais e depois logo se vê. Um país não é uma tabacaria, uma mercearia ou um supermercado.

Não podemos aceitar que nos vendam a retalho e nos governem desta maneira.
Pacificamente, iremos impedi-lo enquanto nos restar alento e vida.

Com a nossa imaginação criadora de outros cenários. E com a nossa convicção do que é justo.

Com a nossa força comum, o peso avassalador do número do que, aqui e no mundo inteiro, pensam da mesma maneira, e agem, pacificamente, na mesma direcção, e pelos mesmos objectivos.

Temos por nós o entusiasmo dos que já acordaram e estão a ajudar os outros que ainda dormem a acordar também. Agora e para salvaguardar o tempo vindouro dos que estão por nascer.

Bem-haja todos os que aqui se encontram e todos os que, mesmo ausentes, comungam de corpo e alma estas novas Cruzadas.

Pelo futuro que estes presentes anunciam, estamos e estaremos aqui.

Manuela Gonzaga

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

"Ousar falar de política desmontando os seus fundamentos, em toda a sua complexidade, e com os segredos que comportam, chega a ser perigoso"



"Falar de política é e mantém-se difícil porque o político nunca joga só. O que o político diz de si próprio está cheio de mentiras, de dissimulações. Ousar falar de política desmontando os seus fundamentos, em toda a sua complexidade, e com os segredos que comportam, chega a ser perigoso. A cidade, todas as cidades, a sociedade, todas as sociedades, não toleram que se fale delas lucidamente, radicalmente, desvelando ao máximo possível os mecanismos em marcha, assim como o seu imaginário, também ele limitado. Fazer isso não de um ponto de vista particular, não privilegiando um partido, seja ele qual for, dificilmente é suportável. O inimigo é mais fácil de situar:partidos e Estados combatem-no e tendem a eliminá-lo, brutal ou pacificamente. Aquele que não é amigo nem inimigo de um dos sistemas em vigor ou da estrutura global da colectividade, aquele que não pode ser classificado segundo as rubricas políticas admitidas, mas que perscruta em profundidade o maciço social-político fortemente fissurado e as construções que o povoam, só pode ser sacrificado, duma ou de outra maneira. Ninguém deve fazer abalar ou desestabilizar o consenso geral e os desvios autorizados, que caracterizam os extremos, o centro, os sonhos anarquizantes. Aquele que ousa "atacar" todas as frentes sem excepção, desmantelar todos os poderes e seus funcionamentos, vê-se afastado. [...] O descodificador do político e das regras que o sustentam faz o seu trabalho porque o que se lhe impõe e o anima é mais forte do que o silêncio ou o discurso balofo. Toda a tradição ocidental - não parece que outras tradições escapem a este mesmo destino - , de Heraclito a Heidegger, não ousa pôr em questão os fundamentos e últimas consequências do conjunto no qual as diferentes épocas vivem e que é qualificado de política. Heraclito não ousa pôr em questão a polis e Heidegger fica à sombra do político e do Estado, o que não o impede de pertinentemente esclarecer não o Estado, mas a tecno-estrutura"
- Kostas Axelos (1924-2010), Cartas a um jovem pensador, Vila Nova de Gaia, Estratégias Criativas, 1997, pp.63-64.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Um texto do pintor Vítor Pomar sobre a manifestação de 10 de Janeiro, 18.30, no Rossio



EXORTAÇÃO
A propósito da manifestação promovida pelo PAN para dia 10 de Janeiro
Bem vindos, amigos chineses!
Vamos agora estar mais próximos e acompanhar atentamente os acontecimentos e as condições de vida dos nossos povos.
Só uma visão global poderá gerir a actual revolução tecnológica em que a comunicação circula como nunca antes aconteceu, sabendo que o nosso maior inimigo é a IGNORÂNCIA!
Vamos todos contribuir para um FUTURO viável, para os humanos e todos os seres, para uma diversidade ambiental de que dependemos como navegantes da nave espacial TERRA.
Vamos fazer com que os nossos governos promovam a criação de um novo paradigma, um modo de vida que garanta um verdadeiro humanismo, uma vez que o capitalismo desenfreado leva ao abismo desumano, à escravatura por dívidas e ao terrorismo de estado.
Vamos todos partir à descoberta de um novo modus vivendi baseado na garantia da satisfação das necessidades básicas de todos, em que deixamos de ser apenas consumidores para nos tornarmos criativos em todos os aspectos da vida.
Vamos acordar da letargia conformista que o sistema insiste em impor-nos.
Vamos enfrentar, não conformar-nos, com a política de terra queimada que caracteriza o fim dos impérios.
Vamos libertar-nos dos enganos e ilusões da sociedade de consumo, que ainda vemos como um privilégio, mas que de facto envenena todos os seres e o ambiente.
Vamo-nos descobrir solidários e não apenas revoltados, exigindo a manutenção de direitos outrora conquistados.
A nossa aventura terá de ir muito mais longe e muito mais fundo, tanto na consciência de cada um como na sociedade.
É por isso que estamos aqui, é este o meu apelo e a minha saudação ao grande povo chinês com que devemos hoje manifestar a nossa amizade e solidariedade.


Nota final
Estamos a assistir ao fim do imperialismo ocidental, económico e cultural, que, ao longo de vários séculos procurou vender e impor sua visão aos outros povos, cujas culturas ancestrais foram desprezadas.
A cegueira dos outros choca-nos, tanto quanto somos incapazes de reconhecer a nossa própria cegueira.
Só com a fundamentação de um verdadeiro humanismo se poderá tentar avançar para um encontro com os nossos irmãos das diversas etnias e culturas, até agora distantes, dominados ou ignorados.
O trabalho que vamos ter de fazer, que inclui despirmo-nos das nossas certezas, históricas, filosóficas, etc., é tanto ou mais do que o deles.
Note-se que este trabalho não significa uma limitação ou perda de valores, mas sim um acesso a mais vastos e luminosos horizontes.
Quão limitados têm sido os nossos horizontes, só ultrapassados por uma arrogância nunca posta em causa!
Temos hoje uma oportunidade única de nos descobrirmos e conhecermos mesmo para além dos valores até agora supostamente válidos e inquestionáveis.

Vítor Pomar
3 de Janeiro 2012

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

"o pior de tudo é a ficção de que tudo tem um preço ou [...] de que o dinheiro é o mais alto de todos os valores"



"No mercado suprimem-se, por razões de ordem prática, inúmeras distinções qualitativas que são de importância vital para o homem e a sociedade [...]. Por isso mesmo é n'«O Mercado» que o domínio da quantidade festeja os seus maiores triunfos. Tudo se compara com tudo. Comparar as coisas significa atribuir-lhes um preço e possibilitar, desse modo, a troca de umas pelas outras. O pensamento económico, na medida em que se baseia no mercado, retira à vida toda a sua sacralidade, porque nada pode haver de sagrado em tudo que tem um preço [...].
[...] o pior de tudo, aquilo que é destrutivo da civilização, é a ficção de que tudo tem um preço ou, noutros termos, de que o dinheiro é o mais alto de todos os valores"

- E. F. Schumacher, Small is Beautiful (um estudo de economia em que as pessoas também contam), Lisboa, Dom Quixote, 1985, 2ª edição, p.43.

domingo, 1 de janeiro de 2012