PAN - UM NOVO PARADIGMA

Vivemos o fim de ciclo de um paradigma civilizacional esgotado, o paradigma antropocêntrico, cuja exacerbação nos últimos séculos aumentou a devastação do planeta, a perda da biodiversidade e o sofrimento de homens e animais. Impõe-se um novo paradigma, uma nova visão/vivência da realidade, ideias, valores e símbolos que sejam a matriz de uma nova cultura e de uma metamorfose mental que se expresse em todas as esferas da actividade humana, religiosa, ética, científica, filosófica, artística, pedagógica, social, económica e política. Esse paradigma, intemporal e novíssimo, a descobrir e recriar, passa pela experiência da realidade como uma totalidade orgânica e complexa, onde todos os seres e ecossistemas são interdependentes, não podendo pensar-se o bem de uns em detrimento de outros e da harmonia global. Nesta visão holística da Vida, o ser humano não perde a sua especificidade, mas, em vez de se assumir como o dono do mundo, torna-se responsável pelo equilíbrio ecológico do planeta e pelo direito de todos os seres vivos à vida e ao bem-estar.

Herdando a palavra grega para designar o "Todo", bem como o nome do deus da natureza e dos animais, o PAN - Partido pelos Animais e pela Natureza - incarna esse paradigma na sociedade e na política portuguesas.

O objectivo deste blogue é divulgar e fomentar o debate em torno de contributos diversos, contemporâneos e de todos os tempos, para a formulação deste novo paradigma, nas letras, nas artes e nas ciências.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

"A ética é a responsabilidade sem limites por tudo o que vive”

“O princípio básico da moral que é uma necessidade de pensamento significa, contudo, não apenas uma ordenação e um aprofundamento, mas também uma ampliação das visões correntes do bem e do mal. Um homem apenas é autenticamente ético quando obedece à compulsão para ajudar toda a vida que for capaz de auxiliar e foge a ofender o quer que seja que viva. Ele não pergunta até que ponto esta ou aquela vida merece a nossa simpatia como sendo valiosa, nem, para além disso, se e até que grau é capaz de sentir. A vida como tal é para ele sagrada. Ele não arranca nenhuma folha de uma árvore, não colhe nenhuma flor e presta atenção a não esmagar nenhum insecto. Se no Verão trabalha à luz da vela, prefere manter a janela fechada e respirar uma atmosfera abafada do que ver um insecto após outro cair com asas queimadas sobre a sua mesa. Se caminha pela estrada após um duche e vê uma minhoca que se extraviou, ele pensa para consigo mesmo que ela vai secar ao sol se não regressar suficientemente cedo a um solo que possa escavar e por isso levanta-a da mortal superfície de pedra e coloca-a na relva. Se se depara com um insecto que caiu num charco, pára um momento para lhe estender uma folha ou uma haste no qual ele se possa salvar a si mesmo. Ele não tem medo de que dele riam por ser sentimental. É o destino de toda a verdade ser objecto de riso até ser geralmente reconhecida. Outrora foi considerado loucura assumir que homens de cor eram realmente homens e deviam ser tratados como tais, mas a loucura tornou-se uma verdade aceite. Hoje pensa-se estar-se a ir demasiado longe ao declarar que a atenção constante a tudo o que vive, até às manifestações mais ínfimas da vida, é uma exigência feita pela ética racional. Está contudo a chegar o momento em que as pessoas se espantarão por a humanidade ter necessitado de tanto tempo para aprender a considerar a ofensa irreflectida à vida como incompatível com a ética. A ética é a responsabilidade sem limites por tudo o que vive” - Albert Schweitzer, The Philosophy of Civilization, New York, Prometheus Books, 1987, pp.310-311.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

A libertação dos animais e dos homens é uma mesma luta

“Na verdade, a preocupação com a justiça para com os não-humanos apenas faz sentido como parte de uma visão social e política progressista que valorize os direitos humanos e se oponha à exploração humana” - Gary Francione, "Animals as Persons. Essays on the abolition of animal exploitation", New York, Columbia University Press, 2008, p.17.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

l´aperto. l´uomo e l´animal

“O que é o homem, se este é sempre o lugar – e, simultaneamente, o resultado – de divisões e cesuras incessantes? Trabalhar sobre estas divisões, interrogarmo-nos sobre o modo como – no homem – o homem foi separado do não-homem e o animal do humano, é mais urgente do que tomar posição sobre as grandes questões, sobre os supostos valores e direitos humanos. E, talvez, também a esfera mais iluminada das relações com o divino dependa, de algum modo, daquela – mais obscura – que nos separa do animal. Agamben, L´aperto. L´uomo e L´animal, 2002