PAN - UM NOVO PARADIGMA

Vivemos o fim de ciclo de um paradigma civilizacional esgotado, o paradigma antropocêntrico, cuja exacerbação nos últimos séculos aumentou a devastação do planeta, a perda da biodiversidade e o sofrimento de homens e animais. Impõe-se um novo paradigma, uma nova visão/vivência da realidade, ideias, valores e símbolos que sejam a matriz de uma nova cultura e de uma metamorfose mental que se expresse em todas as esferas da actividade humana, religiosa, ética, científica, filosófica, artística, pedagógica, social, económica e política. Esse paradigma, intemporal e novíssimo, a descobrir e recriar, passa pela experiência da realidade como uma totalidade orgânica e complexa, onde todos os seres e ecossistemas são interdependentes, não podendo pensar-se o bem de uns em detrimento de outros e da harmonia global. Nesta visão holística da Vida, o ser humano não perde a sua especificidade, mas, em vez de se assumir como o dono do mundo, torna-se responsável pelo equilíbrio ecológico do planeta e pelo direito de todos os seres vivos à vida e ao bem-estar.

Herdando a palavra grega para designar o "Todo", bem como o nome do deus da natureza e dos animais, o PAN - Partido pelos Animais e pela Natureza - incarna esse paradigma na sociedade e na política portuguesas.

O objectivo deste blogue é divulgar e fomentar o debate em torno de contributos diversos, contemporâneos e de todos os tempos, para a formulação deste novo paradigma, nas letras, nas artes e nas ciências.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Viajante sereno

A Fraternidade é um “bem” demasiado precioso para que o contaminemos com a indolência.

Dogma e superstição, fanatismo e niilismo, são a descendência do obscurantismo. A sua superação – o bom combate – obriga a que não usemos das suas falácias.

A humanidade, sendo una, remete para a exaltação do que é comum: a abarcância da Vida.

Tudo o que separa é in-coerente. Por isso, afirmar a radical diferença, esse estulto argumento da miopia dualista, interdita o caminho médio para a ponte que, no subtil movimento, liga as margens do rio do esquecimento.

Será este um dos caminhos do humano enquanto viajante sereno.

Ponte, rio, humano, margem e caminho, serão as metáforas possíveis resultantes, no entanto, de um descentramento radical?

António E. R. Faria

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Do sacrifício como símbolo da queda pelo consumo de carne de animais

"É possível que a princípio o sacrifício simbolizasse a queda por um alimento animal, a expiação da morte da primeira rês; por qualquer circunstância, o homem, primitivamente frugívoro, teria sido obrigado a alimentar-se com a carne de animais, até aí sagrados para ele; abatera o primeiro e logo sentira todo o horror do seu crime: matara um companheiro, um amigo, e o seu primeiro movimento foi de fuga; depois, para que os deuses lhe perdoassem, fazia-os tomar parte no festim. O rito estranho das Bufónias, antiquíssimo, reproduzia com pormenorização a cena primitiva: havia a fuga do sacrificador, a acusação de todos os que tinham tomado parte na cerimónia; finalmente, a condenação dos instrumentos que tinham servido para cometer o crime"

- Agostinho da Silva, A Religião Grega [1930], in Estudos sobre Cultura Clássica, p. 165.

Agostinho da Silva retoma aqui a tese de Teixeira Rego, seu professor na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Veja-se, de Teixeira Rego, a Nova Teoria do Sacrifício.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

2.ª carta de um humano

Afinal, «o que mais importa» é pormo-nos em movimento, saudavelmente inquietos, contribuindo para que a vida possa produzir ecos de sentido no espantamento de ser.

Coerência de conjunto, eis o que aqui se pede, em vez de uma arquitectura coisificante, de um sistema “endurecido” e plasmado num qualquer “ismo” ou “ista”. Desmontar as representações estabelecidas sim, mas não substituindo-as por outras! Experiência desnuda para a qual teremos de atiçar a chama da Candeia e despir os espessos mantos do uni-forme, é preciso! E deixar voar o que de-forma, o que distorce a percepção de modo a viajarmos como ecrãs transparentes para que os dados da experiência o sejam também. Sejamos íntimos com a sorridente fluidez da experiência onde a discriminação é nada mais do que um percorrer dos patentes possíveis entre múltiplos vórtices de Vida. Mística e racionalismo, metafísica e ciência, porque não? O pensamento vivo é ele mesmo esse fluxo que não cessa de se surpreender. Aplique-se às questões metafísicas a via experimental dos horizontes abarcantes e às questões científicas a amplitude da vida, do movimento, do radical espantamento, essa absoluta simplicidade que é irrepresentável por vocábulos postiços e contorções filológicas, sinais evidentes das determinações redutoras e da ausência do que é saudável. Se temos de ser para viver, teremos de viver para poder ser. Façamo-lo por isso na grande fluidez da Vida, neste Magno-Sistema Azul a que damos o nome de Terra!

Reflictamos um pouco. Na sua maioria, o Sapiens Sapiens entender-se-á ainda hoje como a espécie dominante no planeta, como o pináculo da evolução, usando ainda as muletas de certos modelos exarados em inúmeros textos de uma dada ortodoxia “canónica”, ditados pelas hegemonias de circunstância e que parecem conferir aos “dominantes” inquestionáveis direitos de vida e morte sobre os seres ou recursos de vida que estão deste modo “naturalmente” disponíveis para a predação. Chegou o tempo de entender com mais profundidade a senciência da Vida, em que as espécies, por desempenharem o seu papel na cooperação global, possuem por isso mesmo, intrinsecamente, o direito à sua auto-determinação inerente a um plano maior, independentemente do que nós, sábio sábios, possamos entender sobre o seu grau relativo de consciência. A Consciência-Natureza-Vida-Movimento, ocultando-se sob as capas dos veículos exteriores surge no magnífico esplendor de um qualquer nicho ecológico em qualquer ponto do planeta-suporte, desde o mais simples átomo ao mais elevado Dhyani-Choan. Ora acresce ainda, se olharmos a Terra-Mãe de um outro ponto de vista, que esta contém recursos limitados que mais restritos se tornam ao serem severamente poluídos ou gastos irreverentemente. Como diz o economista K. Bolding, «quem postular um crescimento infinito num mundo finito ou é louco ou economista» (Latouche, 2011).

Esta singela entidade, o nosso duplamente sábio, parece ainda resistir às próprias evidências científicas de que o Sistema onde vive é o seu suporte natural de vida, e que ao contribuir decisivamente para a devastação desse sistema-suporte causa também e inevitavelmente a sua própria destruição. Mas, se optarmos por um leitura mitigada dos acontecimentos, torna-se ainda evidente que infligir sofrimento a esse mesmo sistema-suporte leva também a experienciar a sua parcela do sofrimento global. Ora, se for entendido que o gradiente de sofrimento tem uma relação directa com o patamar de consciência de uma espécie, nós todos, sábios sábios, candidatamo-nos ao lugar de grandes-sofredores, dado que pertencemos a uma espécie que possui um sistema nervoso bastante delicado e uma mente que, orgulhosamente, se entende como “criadora” “da” estética, “da” ética, “da” moral, “da” metafísica, “da” ciência, “das” tecno-ciências e “das” tecnologias, que já pode visitar outros corpos celestes, que tem uma dimensão alargada do espaço, que escreve milhões de livros mas que simultaneamente produz milhões de objectos dispensáveis na vertigem de um crescimento económico que julga poder ser infinito, o que obriga à produção de bens e poluentes para lá das taxas possíveis de auto-recuperação dos bio-sistemas que compõem o Grande Processo.

A tentativa de se pensar isolado, ao abrigo das consequência dos seus actos, parece ser coisa pouco Sábia por parte do nosso pequeno sábio sábio, mais próprio de alguém que, “olvidando” os venenos que colocou no que entende como sendo o “seu” pequeno quintal, chora ao assistir à morte de um ente mais próximo mas desvaloriza se o mesmo acontece a um outro qualquer. E, mesmo que não houvesse culpa imputável – certamente por comprovada demência do sujeito actuante – o nada fazer por parte dos outros sábios sábios para tentar reverter um processo que está em marcha, leva a que seja definitivamente ponderado esse título de sábios sábios que a nós próprios pretendemos continuar a atribuir. Saque e predação das âncoras naturais da vida como resultado de “maximização do consumo” tem levado a que surjam desculpas de ocasião, relatórios amigáveis por encomenda que sugerem estarmos a viver simplesmente um ciclo “natural” cuja responsabilidade em nada nos diz respeito e sobre o qual nada poderemos fazer e que deveremos seguir em frente arranjando talvez alguns meios de protecção extra. Qual o resultado destas lutas insanas dos jogos de poder? Haverá um vencedor e uma legião de estropiados ou simplesmente uma quantidade desconhecida de seres sencientes que competem tribalmente para sobreviver? Qualquer dos cenários é decididamente inaceitável. O modelo do “penso-rápido”, esse actor de superfície tão ao gosto do pensar redutor e alienante, não permite uma reflexão profunda e conducente a uma solução mais radical porque mais perto da raiz do problema, logo capaz de sugerir um novo paradigma verdadeiramente adaptado, verdadeiramente seguro, para enquadrar e propor soluções eficazes para um problema desta magnitude. Se continuarmos a deixarmo-nos afectar pela condução psicológica por parte de comerciantes e publicitários (a publicidade é o 2º maior orçamento mundial) que tentam inculcar nas massas falsas necessidades, permitiremos que o mundo se arruíne por excesso de produção, mais que não seja porque ciclos de crescente frequência no consumo e rotação dos “produtos” independentemente de todos os seus impactos na esfera da Vida, obriga a um número exponencialmente crescente de detritos cujos custos de tratamento têm um importante peso na manutenção das assimetrias sociais[1].

Entendemos que no seu patamar de inteligência o homem pode fazer melhor. Mas, se as suas acções não são libertadoras, se não toma consciência do seu sofrimento e das causas da insatisfação que lhe atormentam a existência, enfim, se não ama radicalmente o que com ele vive, como pode utilizar todo o seu potencial de forma harmoniosa, ser de facto verdadeiramente Sábio, fluir no movimento de modo a sustentar o espantamento? Essa insatisfação que o atormenta é evidência da não coincidência do todo na parte e obviamente da parte no todo. É que o sábio sábio tem de mudar primeiro, para poder mudar de rumo. Tem de perceber que o seu estilo de vida deve tornar-se ambientalmente responsável, isto é, ser abarcantemente Fraterno, de modo a que a palavra “sustentabilidade” seja entendida como condição de possibilidade da continuidade plena da vida, do movimento.

Na acção correcta, onde os frutos dessa mesma acção não são egotistamente desejados e o imperativo do dever fala mais alto, está o núcleo da atitude de vida benigna que postula o bem estar do outro como prioridade máxima, onde solidariedade e cooperação entre todos os seres sencientes remetem para uma noção de Mundo como integralidade unitiva, substanciada na diversidade complementar. Dito de outro modo, as inúmeras formas de vida que neste planeta têm o seu devir estão inalteravelmente interligadas e devem contribuir positivamente para esse mesmo movimento consoante as suas efectivas possibilidades. A incondicional decisão de promover o efectivo benefício conducente à libertação dessa insatisfação adquirida pela maioria dos sábios sábios como consequência dos seus aparentes obscurecimentos, da sua visão egocentrada é um outro pilar que se pretende subtilmente actuante.

Os modelos mecanicistas e uma visão linear do tempo estarão na génese de uma atitude de dominação e de fuga para a frente. Já Podolinsky (1850-1891), um pontifex da economia energética, socialismo e ecologia nas suas relações com as leis da termodinâmica (mormente a sua 2ª Lei), tinha tentado, sem aparente sucesso, sensibilizar Marx para a crítica ecológica (Latouche, 2011). Nos anos 40-50 do século passado, com Schrodinger, Wiener, Brillouin e Lokta e posteriormente nos anos 70, com o romeno Georgescu-Roegen, foram melhor entendidas as implicações da entropia no tocante à biologia-economia (Latouche, 2011). Hoje, diariamente, mais de 150 espécies desaparecem por razões de interacções desajustadas. Se a maioria dos biólogos admitem que estamos no meio da 6ª Extinção Massiva, (Feuerstein, The Yoga Tradition) que em profundidade e velocidade excederá a sua “antecessora”, ocorrida há cerca de 65 milhões de anos e que dizimou os dinossauros conjuntamente com mais de 70% de todas as formas de vida, surge a inevitável pergunta: porque continuamos a agir como meteoritos endógenos, destruindo vasto património que não é pertença de ninguém em exclusivo mas antes a condição de possibilidade da existência?

Excesso de consumo nos países ditos “desenvolvidos”, descomedimento de população e graves assimetrias globais, poluição feroz e em larga escala, de águas, solos e ar, depredação dos lençóis freáticos, manipulação genética e “indústria animal” (???) esse acto vergonhoso para uma espécie que se entende como “humana”[2], é dispor da Vida como “coisa”, geradora ou não de lucros, é atitude indefensável sob qualquer ponto de vista principalmente quando existem compassivas e reais alternativas para um viver sustentado.

Neste momento pede-se verdadeiramente uma focagem incisiva. É Amor-Sabedoria que se demanda, é Compaixão em Acção que tem imperiosamente de ser cultivada e praticada. Ou mudamos de paradigma de interacção ou este paradigma dará cabo de nós. Tornemo-nos presente, em movimento na paz onde todos sejamos vencedores, a começar por o sermos de nós mesmos. Mais do que aquilo que somos, e do que poderemos dizer sobre a vida dos outros, preocupemo-nos agora com estes nossos trabalhos. Devemo-lo aos de hoje e aos que amanhã virão. Para nós a serena alegria que vemos espelhada no rosto da criança que nos oferece a sua mão e sorri porque nada deseja senão ser, partilhar cada arco-íris como sendo o prenúncio de uma nova aurora que chega e passa, nada deixando de si, nem sequer a certeza de se repetir a não ser em promessa de estrelas fulgurantes. Saudavelmente inquietos, movamo-nos no que é (sempre) um novo presente.

É aqui, agora!

António E. R. Faria



[1] Nesta lógica consumista, e reportando-nos a 2007, cerca de 150.000.000 computadores são transportados anualmente para as lixeiras do 3º Mundo (uma bela metáfora para dissimular uma triste realidade).

[2] O patamar de consciência dito “humano” a mais obriga. O esforço que se terá de realizar para que se cumpra mais esse degrau é uma questão de primordial importância no incessante Movimento.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

"As vidas humanas decorrem na mesma íntima inconsciência que as vidas dos animais."

Muitos têm definido o homem, e em geral o têm definido em contraste com os animais. Por isso, nas definições do homem, é frequente o uso da frase «o homem é um animal...» e um adjectivo, ou «o homem é um animal que...» e diz-se o quê. «O homem é um animal doente», disse Rousseau, e em parte é verdade. «O homem é um animal que usa ferramenta», diz Carlyle, e em parte é verdade. Mas estas definições, e outras como elas, são sempre imperfeitas e laterais. E a razão é muito simples: não é fácil distinguir o homem dos animais, não há critério seguro para distinguir o homem dos animais. As vidas humanas decorrem na mesma íntima inconsciência que as vidas dos animais. As mesmas leis profundas, que regem de fora os instintos dos animais, regem, também, de fora, a inteligência do homem, que parece não ser mais que um instinto em formação, tão inconsciente como todo o instinto, menos perfeito porque ainda não formado.

Fernando Pessoa, O Livro do Desassossego, Biblioteca Visão, p.102

sábado, 19 de fevereiro de 2011

“Assim é o homem superior afectado pelos animais, que, vendo-os vivos, não pode suportar vê-los morrer"

“Assim é o homem superior afectado pelos animais, que, vendo-os vivos, não pode suportar vê-los morrer; tendo escutado os seus choros de morte, não pode suportar comer a sua carne. E por isso ele mantêm-se longe de matadouros e de cozinhas.”

- Confúcio (Mencius, Livro I King of Liang, capítulo VII, 8).

É urgente uma cultura da compaixão.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

"Tiram dos pobres e dos fracos para alimentar os ricos que mandam"

Olhai meus irmãos, chegou a primavera; a terra recebeu os abraços do sol e em breve veremos os resultados desse amor!
Cada semente despertou e o mesmo se passa com toda a vida animal. É através desse misterioso poder que também nós temos o nosso ser e que do mesmo modo consentimos aos nossos vizinhos, mesmo aos animais vizinhos, um direito igual ao que temos, de habitar a terra.
No entanto, ouvi-me, minha gente, nós agora temos que tratar com outra raça - que era pequena e fraca quando os nossos pais a encontraram pela primeira vez, mas que agora é inumerável e esmagadora. Por estranho que pareça, tem propensão para cultivar o solo mas o amor da posse é uma doença entre eles. Essa gente fez muitas regras que os ricos podem quebrar mas não os pobres. Tiram dos pobres e dos fracos para alimentar os ricos que mandam. Afirmam que esta nossa mãe de todos nós, a terra, é deles, e separam-se com vedações dos vizinhos, e desfiguram-na com os seus edifícios e lixo. Essa nação é como uma torrente furiosa que salta das suas margens e destrói todos os que estão no seu caminho.
Não podemos habitar lado a lado. Há sete anos apenas fizemos um tratado no qual era assegurado que o país do búfalo seria nosso para sempre. Agora ameaçam tirá-lo de nós. Meus irmãos, devemos submeter-nos ou devemos dizer-lhes: «Matem-me antes de tomar posse da minha Terra Natal...»

- Tatanka Yotanka (Touro Sentado), Guerreiro Sioux,
in O Sopro das Vozes Textos de Índios Americanos, Assírio e Alvim, pp.186-187

"Porque a raiz de todos os males é a ganância do dinheiro"


A piedade é, realmente, uma grande fonte de lucro para quem se contenta com o que tem. Pois nada trouxemos ao mundo e nada podemos levar dele. Tendo alimento e vestuário, contentemo-nos com isso. Mas os que querem enriquecer caem na tentação, na armadilha e em múltiplos desejos insensatos e nocivos que precipitam os homens na ruína e na perdição. Porque a raiz de todos os males é a ganância do dinheiro. Arrastados por ele, muitos se desviaram da fé e se enredaram em muitas aflições.
- Paulo Tim 6, 6-10

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Versão integral da entrevista de Paulo Borges publicada na "Visão" de 10.2.2011

1. Qual é o objetivo do PAN ao pretender candidatar-se nas próximas eleições legislativas?

Eleger quem faça a diferença, defendendo não interesses de grupos, mas o bem de todos os seres e a harmonia ecológica. Reformar mentalidades e refundar a política na ciência e na ética, na razão, no amor e na compaixão. Somos um partido inteiro, que assume a unidade das causas humanitária, animal e ecológica. Um partido da solidariedade que, lutando contra todas as formas de discriminação e opressão do homem pelo homem, não aceita a discriminação e violência contra os animais, parente próxima do esclavagismo, racismo e sexismo.

2. Quais são os principais temas que quer ver discutidos?

Consagrar na Constituição a senciência dos animais, a sua capacidade de sentirem dor e prazer, físicos e psicológicos, alterando o Código Civil, onde são reduzidos ao estatuto de coisas, bem como aprovar uma lei para sua protecção, que criminalize os atentados contra a sua vida, abandonos e maus-tratos.
Questionar o modelo de crescimento económico. A produção de riqueza deve servir as necessidades fundamentais da população, a educação, a cultura e o nosso desejo de felicidade, numa alternativa à sociedade de produção e consumo que, para satisfazer desejos artificialmente criados, explora homens, animais e recursos naturais, sacrificando o bem comum à avidez de lucro. A economia de mercado deve ser reconvertida para o bem social, humano, animal e ecológico. Há que reduzir gastos com a Defesa, Exército e obras públicas de fachada, moralizar salários e reformas da administração pública e privada e aumentar os impostos sobre os grandes rendimentos.

3. Porque é que diz que uma grande maioria dos eleitores não se reconhece no atual quadro político?

Nas eleições presidenciais, contando abstenções, votos em branco, nulos e em independentes, 66% (!) do total de eleitores recusou as propostas dos partidos com assento parlamentar. Isto mostra um imenso espaço aberto para surgirem novas iniciativas cívicas e partidárias, que o PAN assume como seu.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

"Carta de um humano" - "Touradas???"

Carta de um humano

Touradas???

Os homens e mulheres não são entidades estáticas, mas sim seres que têm em si a capacidade de fazer melhor, portanto de serem perfectíveis. Assim, se considerarmos que são susceptíveis de se aperfeiçoarem, isso implica que têm a capacidade de abandonarem modelos que deixaram de representar os valores entendidos como correctos à luz de um dado patamar ético e, consequentemente, estabelecerem novos paradigmas que lhes permitam orientar as vivências de modo mais consentâneo. Assim, movimento, interacção e evanescência surgem como molas propulsoras da Vida em permanente devir.
Ao longo dos tempos, as culturas deixaram sempre aflorar, aqui e ali, os altos valores dos saberes que se constituem ainda hoje como farol para uma prática fraterna entre todos os seres sencientes, onde naturalmente se incluem os humanos, e onde todos, necessariamente, têm um lugar e um papel a desempenhar. A Natureza só é feliz quando todos os seus elementos vivem em equilíbrio dinâmico consoante o patamar de consciência de cada um! E esta consciência – por exemplo, a capacidade de reflectir e meditar sobre as ocorrências e actos praticados – se mais apurada, mais subtil e profunda, tanto mais responsável deverá ser.

A questão que aqui se coloca é, pois, bastante simples. Se aceitarmos que os actos praticados, ditos e pensados têm consequências, que papel queremos desempenhar nesta dinâmica inter-relacional e, por maioria de razão, que herança deixaremos às gerações vindouras? No caso dos seres “animais”, desejaremos conscientemente continuar a retirar prazer a expensas do seu sofrimento, numa espécie de orgia selvagem que não olha a meios para atingir os fins, mesmo que isso implique dor e tormentos continuados? É essa a representação de Homem que queremos continuar a sustentar e/ou permitir?

Porque os valores mudam, as culturas necessariamente reflectem estas mesmas mudanças! Afirmarmos que algo faz parte de um alegado “património” e que portanto se deve eternizar, mesmo que isso comporte o perpetuar de valores já inaceitáveis, é não só recusar o óbvio como também tentar afirmar um imobilismo pantanoso na vã pretensão de aprisionar o grande rio da vida. É também recusar crescer interiormente, é voltar as costas ao horizonte desenhado pela solidariedade e pela fraternidade que devemos a nós próprios e a todos os outros seres que, juntamente connosco, compõem esta grande Sinfonia da Natureza! Aquilo que alguns apelidam de “animais”, esses meros objectos, simples “coisas” de quem se alega ter o direito de dispor a seu belo prazer na prossecução de interesses egoistamente medíocres, é já hoje uma abordagem que a maioria não sustenta, que já não entende como aceitável!

A grande comunidade de Portugueses a que chamo Portugal, perdoem se me engano, tem ao longo do tempo dado evidentes sinais ao mundo de possuir um fundo afectuoso e uma intenção de pouco pactuar com interesses mesquinhos, mostrando desde sempre ser mais inclinada para o sorriso hospitaleiro do que para o exercício do uso do gume da espada! Não será afinal esse o “fundo” Português que subjaz à manta genética que nos surge aos sentidos? Como “rosto da Europa”, como farol que mostrou novas terras ao mundo e por tantas outras razões que não cabe aqui mencionar, é hora de reafirmarmos mais uma vez a nossa força de mudança alicerçada por essa “alma” temperada pela força da esteva e pelo sussurro do mar no seu eterno movimento cíclico e que sempre nos convida a mais uma viagem.

As “touradas” são a degradante imagem que certos defuntos protelados querem perpetuar, a vergonha da nossa cara enquanto homens e mulheres cidadãos dos «mundos a haver»! Não deveremos mais permitir que a imagem desta terra luxitanea, deste porto sagrado do graal, se deixe manchar pela incúria e passividade, pelo comodismo e pela recusa de vivenciar um modelo holístico, abarcante e fraterno! Há tempo para pensar, há tempo para agir! Hoje, na velocidade estonteante deste mundo tido como complexo, a sabedoria mostra a verdade do que é simples mas não simplório. Avancemos para pensar, pare-se para verdadeiramente agir! Na simples decisão de uma recusa firme, que jamais possa dar continuidade ao vil proceder, está a força calma do sorriso que simplesmente diz não.

Portugal é pequeno para os curtos de vista, para os de coração empedernido, nunca para aqueles que o vivem como terra prática de sonho e utopia, onde a planura alentejana e as serranias para lá do Marão, o quente Algarve, o doce Minho e as saudosas Beiras, as cálidas terras estremenhas tão perto desse Riba+Tejo, são evidências de diversidade a que subjaz a unidade desse “ser” Português do/no Mundo!

Touradas??? Decididamente, não!!!

António E. R. Faria

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

"Os animais têm direitos?" - Lançamento no dia 8, 3ª, 18.30, na FNAC - Chiado



"No contexto do debate em que os ensaios deste livro se inscrevem, falamos não de direitos legais, mas de direitos morais. A questão geral em que todos estes ensaios se centram, então, é a de saber como devemos tratar os animais não-humanos se adoptarmos um ponto de vista ético, independentemente do que as leis dizem a esse respeito" - Pedro Galvão, "Introdução", p.9.

Terei o prazer de apresentar esta importante antologia de textos fundamentais sobre esta questão na 3ª feira, 8 de Fevereiro, às 18.30, na FNAC Chiado. Felicito o organizador e tradutor, Dr. Pedro Galvão, bem como a editora Dinalivro, por mais este contributo para o conhecimento em Portugal de textos referentes a questões éticas actuais e essenciais.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Vai um Big Pan?


Nem todos os hambúrgueres são fast-food, esta receita vegetariana de hambúrgueres de feijão é uma prova disso. Com uns saborosos pasteis de feijão esta é uma receita de hambúrguer nutritiva e muito especial. Pode preparar os hambúrgueres de feijão num churrasco surpreendendo os seus amigo ou dentro de casa. Pode acompanhar os hambúrgueres com o molho da receita ou em alternativa com um molho de tomate para churrascos, tal como substituir as batatas fritas por fritos de batata com queijo parmesão.

Preparação: 15 minutos | Tempo de cozedura: 1 hora

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

John Hard: O meu sonho de uma escola ecológica

"Que é o ser humano sem os animais?"

"Que é o ser humano sem os animais? Se os animais deixassem de existir, os seres humanos morreriam com a grande solidão do coração. Pois tudo quanto acontece aos animais logo há-de acontecer também aos seres humanos. Todas as coisas estão interligadas.

O que quer que aconteça à Terra, há-de acontecer também aos filhos da Terra"

- discurso do chefe índio de Seattle.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

"Arregimentados, nos perderemos no melhor que somos: o ser irmão do mundo."

Conviria talvez que se experimentasse desde já um outro sistema, o de não haver partido algum. Partidos são sempre máquinas de agir e o que estava ao princípio não era a acção, mas o deleite das relações lógicas e o deleite da linguagem quanto possível matemática em que elas se exprimem. No partido, a intensa opinião se fragmenta e apuramos aquilo em que diferimos dos outros homens, não aquilo em que lhes somos irmãos; guiamo-nos por um ser geral que nos supera e por ele nos substituímos; vive em nós a tribo, muito mais do que a Humanidade. [...] Bom seria, por outro lado, que se defendesse o direito de se intervir na política, de se fazer política, sem pertencer a partido algum, criando-se condições eleitorais em que as máquinas partidárias não tivessem que entrar, nem se tivesse que pertencer ao governo para triunfar junto do povo. Uma política sem partidos, nem sequer o único, é a condição indispensável para que o Reino se instaure e para que, instaurado, seja. Acima de tudo, combatemos o que separa: e nao são as opiniões individuais, mas as opiniões de grupo, o que realmente separa homem de homem; arregimentados, nos perderemos no melhor que temos: o ser irmão do mundo.

Agostinho da Silva, Ecúmena, in Agostinho da Silva Textos e Ensaios Filosóficos II, Âncora Editora, pp.199-200

Falta-nos alguém... aquela pessoa que nós somos realmente...

Falta-nos alguém... aquela pessoa que nós somos realmente...
Por isso, o homem passa a vida a procurar-se...
- Onde vais tu?
- Vou atrás de mim!...
E o desgraçado corre e não descansa! De noite continua a correr... É um lobisomem...
- Repousa, pobre doido!
- Não posso! Morro de saudades por mim!
O que nos aflige e consome é esta ausência em que vivemos de nós próprios, esta distância incomensurável que nos separa do nosso espectro!
É esta saudade que nos mata!
Há quem se embriague para a esquecer. César foi César por causa dela.
E Jesus foi o Messias...

Teixeira de Pascoaes, O Bailado, Lisboa, Assírio e Alvim, 1987, p.44

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

"Quando há silêncio, encontramos em nós a âncora do universo."

O Tao nada faz
mas nada deixa por fazer.

Se os homens poderosos
pudessem centrar-se nele,
todo o mundo seria transformado
por si próprio, no seu ritmo natural.

Quando a vida é simples,
o fingimento desaparece;
as nossas naturezas essenciais revelam-se.

Sem desejo, existe calma,
e o mundo endireita-se por si.
Quando há silêncio,
encontramos em nós a âncora do universo.

- Lao-Tzu

A nuvem que passa

O Mestre diz:
Contentar-se com arroz ordinário e um pouco de água para viver, com o braço dobrado para dormir e no entanto nisso encontrar felicidade! Riquezas e honras mal adquiridas não são para mim mais do que a nuvem que passa.

- Confúcio