PAN - UM NOVO PARADIGMA

Vivemos o fim de ciclo de um paradigma civilizacional esgotado, o paradigma antropocêntrico, cuja exacerbação nos últimos séculos aumentou a devastação do planeta, a perda da biodiversidade e o sofrimento de homens e animais. Impõe-se um novo paradigma, uma nova visão/vivência da realidade, ideias, valores e símbolos que sejam a matriz de uma nova cultura e de uma metamorfose mental que se expresse em todas as esferas da actividade humana, religiosa, ética, científica, filosófica, artística, pedagógica, social, económica e política. Esse paradigma, intemporal e novíssimo, a descobrir e recriar, passa pela experiência da realidade como uma totalidade orgânica e complexa, onde todos os seres e ecossistemas são interdependentes, não podendo pensar-se o bem de uns em detrimento de outros e da harmonia global. Nesta visão holística da Vida, o ser humano não perde a sua especificidade, mas, em vez de se assumir como o dono do mundo, torna-se responsável pelo equilíbrio ecológico do planeta e pelo direito de todos os seres vivos à vida e ao bem-estar.

Herdando a palavra grega para designar o "Todo", bem como o nome do deus da natureza e dos animais, o PAN - Partido pelos Animais e pela Natureza - incarna esse paradigma na sociedade e na política portuguesas.

O objectivo deste blogue é divulgar e fomentar o debate em torno de contributos diversos, contemporâneos e de todos os tempos, para a formulação deste novo paradigma, nas letras, nas artes e nas ciências.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Chegou a Hora de uma política politicamente incorrecta

Chegou a Hora de uma política politicamente incorrecta, ao serviço da expansão da consciência e de uma nova cultura. Libertar os humanos, libertar os animais, libertar a Terra. Mudar a mente, mudar o mundo. Cuidar e curar. Não separar a luta pela democracia participativa e pela justiça social e económica da protecção de todas as formas de vida e do planeta. Produzir, consumir e poluir menos, trabalhar menos para que haja mais emprego para todos e se viva mais. Transitar desta civilização, a da ganância de alguns e da miséria de muitos, para uma civilização da abundância frugal para todos. Investir menos no PIB, Produto Interno Bruto, e mais na FIB, Felicidade Interna Bruta. Passa a mensagem. 

sábado, 27 de abril de 2013

(Re)aprender a respirar

Tocador de Sakuhachi
 
Os tocadores de instrumento de sopro desenvolvem uma técnica com vista a poder emitir um som ao mesmo tempo que inspiram. Nomeada de Respiração Circular, julgo que esta técnica tem como base uma filosofia a reter: assim como é possível mesclar inspiração e expiração, também é possível viver estando morto. Sendo a Vida e a Morte duas forças antagónicas essenciais, imaginemos que estas se desdobram de essenciais em aparenciais: Inspiração e Expiração, Dia e Noite, Homem e Mulher, Sol e Lua, Deus e Diabo, Nirvana e Samsara, Partido e Inteiro, Amor e Ódio, Construção e Destruição, etc...  Quem tem um Curso de Filosofia certamente que pode escrever uma tese interessante acerca deste assunto; mas os meus meios limitados escassos de pensar e registar somente me permitem concluir uma coisa: assim como um clarinetista profissional é capaz, após anos e anos de aperfeiçoamento, de emitir um som muito prolongado, infinito, no tempo, o Ser Humano tem em suas mãos a possibilidade de viver o infinito no finito, de transcender a morte e de ser um cadáver - não adiado mas sim inadiado! - ou seja, o Cálice com o Vinho que dilui os opostos e nos brinda com a liberdade de não ser nem um nem dois mas sim haver nada. Para que isto de cálices, cadáveres, ou clarinetistas não passe de mera demagogia teórica, ouso mesmo afirmar - que é o contrário de negar, ou seja o mesmo e/ou (i)mesmo (LOL) - que Tradições orientais, como o Ioga, o Tai Chi, o Karaté Goju Ryu, o Zen - Tradições ou Escolas que me ocorrem neste momento - tornam central o tema da respiração, chamando vezes sem conta a nossa atenção para facto de não sabermos respirar. Talvez fosse importante que nós, crianças, adultos e velhos, mortos e/ou vivos, (re)aprendêssemos a respirar, ocorrendo provavelmente daí uma mudança de cariz interior (no corpo) e exterior (na sociedade).

sexta-feira, 26 de abril de 2013

"No próprio dia existe a noite, e na luz, no centro do Sol, vê-se isto, que mete medo: uma singular mancha de sombra a medrar."


J.M.G. Le Clézio

"As imensas cidades erguem os seus monumentos de betão cinzento, as praças são como lagos de cimento, os invólucros dos automóveis têm brilhos insuportáveis. Tudo está em permanência próximo da deflagração. São dissimuladas as razões. Não residem nas palavras da linguagem, visto as palavras não serem fixas - vivem, resvalam, escorregam, dividem-se como células.
Quero eu dizer: nada é coisa segura, e em parte nenhuma. Os pensamentos atravessam águas turvas, e vão tão longe que já não se lembram de onde terão partido. O universo é estável, é fixo, é uma evidência. Quando porém se o olha, racha e fende-se, abre os seus abismos, as suas partes ocas, os seus mistérios. No próprio dia existe a noite, e na luz, no centro do Sol, vê-se isto, que mete medo: uma singular mancha de sombra a medrar."

J.M.G. Le Clézio, Índio Branco, Fenda Edições, pp.78-79

quinta-feira, 25 de abril de 2013

O Beijo do Sol e da Lua

 
 
Imaginemos a existência num traço vertical; dois sentidos de imediato surgem - o ascendente e o descendente. Relativamente ao primeiro, evoquemos os heróis, os guerreiros, os cavaleiros medievais, os kshatrias indianos, figuras que através da sua ação pretendem ascender aos céus com o intuito de aí alcançar um estado de passividade beatífica. Já o segundo recordemos os semitas e posteriormente os cristãos e os muçulmanos - os representantes das tradições monoteístas - que passivamente através da vida religiosa-contemplativa, esperam que a Graça Divina, o Espírito Santo, a Canastra Iluminadora (expressão que tive oportunidade de escutar numa celebração eucarística em Fátima), conduzindo esta experiência mística a um estado de atividade beatífica na terra. Sendo o primeiro um caminho solar, de cariz indo-europeu e essência da espiritualidade pagã, masculino, inspirado na mulher e expirado no andrógino, ascendente, de princípio ativo que tem como alvo o passivo, o segundo é um caminho lunar, de cariz semita e precursor da espiritualidade monoteísta, feminino, inspirado no Pai, descendente, caracterizado por um princípio passivo que visa o ativo.
Talvez a junção dos dois traga um contorno horizontal à existência, o que significa aniquilamento ou transcendência do ego, algo que poderá quebrar barreiras, fronteiras, limites e muros entre todos os seres, o que permitirá por sua vez uma coexistência universal entre tudo e todos dotada de solidariedade, fraternidade e igualdade.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

"As cidadelas, as praças fortes e os campos entricheirados não resistem muito tempo."

Basta de fechaduras! Basta de paredes e de vidros, basta de ordens inaudíveis dadas por meia dúzia de tiranos lá de cima das suas torres de controlo! As muralhas e as portas despedaçam-se bastante facilmente. As cidadelas, as praças fortes e os campos entricheirados não resistem muito tempo. Explodem por si mesmos, como se de súbito a mão de um arrebatado pesasse na alavanca do detonador. As barreiras da autonomia estão desfeitas. As velhas e sórdidas barreiras da alma, que protegiam o espírito e a linguagem. As propriedades privadas estão estão violadas; nada tinham a preservar. As cidades não desaparecem; estendem a sua paisagem de ferro e de cimento, cobrem as planícies de aluvião e as colinas. Vão, depressa, duma ponta à outra da terra, traçam os seus desenhos velhos, milenários. Já não se trata porém das vilas isoladas, das aldeias, das cidades santas e das cidades proibidas. Tombuctu, Meca, Pequim, para que serve isso? Não, eis talvez chegado o tempo das cidades novas, onde a força da vida de novo domina a linguagem, onde os homens de novo encontram a experiência terrestre, onde os pensamentos, os desenhos e as palavras já não são solitários, semelhantes a sujos excrementos secos, mas são agora como os sinais dos Índios: uma encantação, uma música, uma dança, às quais cada qual obedece e cada qual inventa.

J.M.G. Le Clézio, Índio Branco, Fenda Edições, pp.16-17

sábado, 20 de abril de 2013

God Bless America


Julgo que a América é o país da liberdade cimentada no medo. Medos, fantasmas, demónios, aversões e desejos recalcados - quando tudo isto vem ao de cima, há sempre atentados, sangue e morte. Não é com leis, tribunais e penas - que simplesmente têm a função de recalcar o animal que há em nós - que se apazigua uma população; assim como tens de passear o cão todos os dias, também há que passearmo-nos sem que isso prejudique a vida de alheia.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

"O que se requer é uma nova criação imaginária de uma importância sem paralelo no passado, uma criação que metesse no centro da vida humana outras significações que não a expansão da produção e do consumo"

"O que se requer é uma nova criação imaginária de uma importância sem paralelo no passado, uma criação que metesse no centro da vida humana outras significações que não a expansão da produção e do consumo, que colocasse objectivos de vida diferentes que pudessem ser reconhecidos pelos seres humanos como valendo a pena. (...) Tal é a imensa dificuldade com que nos defrontamos. Deveríamos querer uma sociedade na qual os valores económicos cessaram de ser centrais (ou únicos), onde a economia esteja reposta no seu lugar como simples meio da vida humana e não como fim último, na qual se renuncie pois a esta corrida louca para um consumo sempre acrescido. Isso não é somente necessário para evitar a destruição definitiva do ambiente terrestre, mas também e sobretudo para sair da miséria psíquica e moral dos humanos contemporâneos"

- Cornélius Castoriadis, La montée de l'insignificance. Les carrefours du labyrinthe IV, Paris, 1996, p.96.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Sistema de poupança de água


Eis uma ideia que o meu filho António, de seis anos, quer partilhar connosco. Será que a consciência ecológica é paradigma das novas gerações? 

quarta-feira, 3 de abril de 2013

«Que é que faz?»


"Sempre que a sociedade moderna nos promete o acesso a uma comunidade, esta é centrada na adoração do sucesso profissional. Sentimos que estamos junto dos seus portões quando a primeira pergunta que nos fazem numa festa é «Que é que faz?». A nossa resposta a essa pergunta determinará se somos bem recebidos ou definitivamente ostracizados por sermos insignificantes. Nessas competitivas reuniões pseudocomunais apenas alguns dos nossos atributos contam como moeda com a qual podemos comprar a boa vontade de desconhecidos. O que interessa acima de tudo é o que está escrito nos nossos cartões profissionais, e as pessoas que optaram por passar a vida a cuidar dos filhos, a escrever poesia ou a tratar de pomares ficarão a saber que remam contra a corrente dominante dos poderosos e que merecem ser devidamente marginalizadas."

Alain de Botton, Religião Para Ateus, Publicações D. Quixote, 2012, p.29