PAN - UM NOVO PARADIGMA

Vivemos o fim de ciclo de um paradigma civilizacional esgotado, o paradigma antropocêntrico, cuja exacerbação nos últimos séculos aumentou a devastação do planeta, a perda da biodiversidade e o sofrimento de homens e animais. Impõe-se um novo paradigma, uma nova visão/vivência da realidade, ideias, valores e símbolos que sejam a matriz de uma nova cultura e de uma metamorfose mental que se expresse em todas as esferas da actividade humana, religiosa, ética, científica, filosófica, artística, pedagógica, social, económica e política. Esse paradigma, intemporal e novíssimo, a descobrir e recriar, passa pela experiência da realidade como uma totalidade orgânica e complexa, onde todos os seres e ecossistemas são interdependentes, não podendo pensar-se o bem de uns em detrimento de outros e da harmonia global. Nesta visão holística da Vida, o ser humano não perde a sua especificidade, mas, em vez de se assumir como o dono do mundo, torna-se responsável pelo equilíbrio ecológico do planeta e pelo direito de todos os seres vivos à vida e ao bem-estar.

Herdando a palavra grega para designar o "Todo", bem como o nome do deus da natureza e dos animais, o PAN - Partido pelos Animais e pela Natureza - incarna esse paradigma na sociedade e na política portuguesas.

O objectivo deste blogue é divulgar e fomentar o debate em torno de contributos diversos, contemporâneos e de todos os tempos, para a formulação deste novo paradigma, nas letras, nas artes e nas ciências.

domingo, 29 de dezembro de 2013

A ilusão do eu separado na raiz de todos os aspectos da crise


“A crise que ameaça o nosso planeta, quer seja vista nos seus aspectos militares e ecológicos ou sociais, deriva de uma noção do eu disfuncional e patológica. Deriva de um erro acerca do nosso lugar na ordem das coisas. É a ilusão de o eu ser tão separado e frágil que tenhamos de delinear e defender as suas fronteiras; de ser tão pequeno e tão necessitado que tenhamos de infinitamente adquirir e consumir; e que, enquanto indivíduos, corporações, estados-nações ou espécie, possamos ser imunes ao que fazemos aos outros seres”

- Joanna Macy, “The Greening of the Self”, in AAVV, Spiritual Ecology. The Cry of the Earth, Point Reyes, The Golden Sufi Center, 2013, pp.149-150.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Os princípios de uma nova civilização


“Um reconhecimento de uma aliança está a crescer entre pessoas em diferentes arenas de activismo, seja político, social ou espiritual. O acupunctor holístico e o resgatador de tartarugas do mar podem não ser capazes de explicar o sentimento, “Estamos a servir a mesma coisa”, mas estão a fazê-lo. Ambos estão ao serviço de uma emergente História das Pessoas que é a mitologia definidora de um novo tipo de civilização.

Chamar-lhe-ei a História do Entre-Ser, a Idade da Reunião, a era ecológica, o mundo da dádiva. Ela oferece um conjunto completamente diferente de respostas às questões que definem a vida. Eis aqui alguns dos princípios da nova história:

- Que o meu ser participa no teu ser e no de todos os seres. Isto vai para além da interdependência – a nossa própria existência é relacional.
- Que, portanto, o que fazemos ao outro, fazemo-lo a nós mesmos.
- Que cada um de nós possui um único e necessário dom a oferecer ao mundo.
- Que a finalidade da vida é expressar os nossos dons.
- Que todo o acto é significativo e tem um efeito no cosmos.
- Que estamos fundamentalmente inseparados uns dos outros, de todos os seres e do universo.
- Que cada pessoa que encontramos e cada experiência que temos espelha algo em nós mesmos.
- Que a humanidade está destinada a unir-se alegremente à tribo de toda a vida na Terra, oferecendo os nossos dons unicamente humanos para o bem-estar e o desenvolvimento do todo.
- Que finalidade, consciência e inteligência são propriedades inatas da matéria e do universo”

- Charles Einsenstein, The More Beautiful World Our Hearts Know is Possible, Berkeley, North Atlantic Books, 2013, pp.15-16.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

"Estamos a reconhecer a nossa própria inseparabilidade, uns dos outros e da totalidade da vida"


“A um nível pessoal, a mais profunda revolução possível que podemos decretar é uma revolução no nosso sentimento de eu, na nossa identidade. O eu autónomo e separado de Descartes e Adam Smith chegou ao fim e está a tornar-se obsoleto. Estamos a reconhecer a nossa própria inseparabilidade, uns dos outros e da totalidade da vida. A usura desmente esta união, pois busca o crescimento do eu separado às custas de algo externo, algo de outro. Provavelmente todos os que lêem este livro concordam com os princípios da interconexão, seja de uma perspectiva espiritual ou ecológica. Chegou o tempo de a vivermos. É a hora de entrar no espírito do dom, que incarna a compreensão sentida da não-separação. Está a tornar-se abundantemente óbvio que menos para ti (em todas as suas dimensões) é também menos para mim. A ideologia do ganho perpétuo levou-nos a um estado de pobreza tão indigente que estamos ofegantes por ar. Essa ideologia, e a civilização construída sobre ela, é o que hoje está a entrar em colapso”

- Charles Eisenstein, Sacred Economics. Money, Gift & Society in the Age of Transition, Berkeley, Evolver Editions, 2011, p.139.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

As razões pelas quais com o actual sistema económico jamais haverá paz para os humanos, os animais e a natureza


“Por causa do lucro, em qualquer dado momento, a quantidade de dinheiro devido é maior do que a quantidade de dinheiro já existente. Para fazer novo dinheiro a fim de manter o inteiro sistema a funcionar, […] temos de criar mais “bens e serviços”. O principal modo de o fazer é começar a vender algo que outrora era gratuito. É começar a converter florestas em madeira, música em produto, ideias em propriedade intelectual, reciprocidade social em serviços pagos.

Estimulada pela tecnologia, a mercantilização de bens e serviços inicialmente não-monetários acelerou ao longo dos últimos séculos, ao ponto de hoje muito pouco ser deixado fora da esfera monetária. As vastas provisões, de terra ou de cultura, foram isoladas e vendidas – tudo para acompanhar o ritmo do crescimento exponencial do dinheiro.

[...]

O imperativo do crescimento perpétuo implícito no dinheiro baseado no lucro é o que impele a implacável conversão da vida, do mundo e do espírito em dinheiro. Completando o círculo vicioso, quanto mais convertemos vida em dinheiro, mais dinheiro necessitamos para viver. A usura, e não o dinheiro, é a raiz proverbial de todo o mal.

[...]

Devido à dívida nutrida pelo lucro acompanhar toda a nova emissão de dinheiro, em qualquer momento dado a quantidade da dívida excede a quantidade de dinheiro existente. A insuficiência do dinheiro impele-nos à competição uns com os outros e remete-nos para um construído e constante estado de escassez. É como o jogo das cadeiras, em que nunca há espaço suficiente para que todos estejam seguros. A pressão da dívida é endémica ao sistema. Enquanto alguns podem pagar as suas dívidas, o sistema global requer um geral e crescente estado de endividamento.

A constante e subjacente pressão da dívida significa que haverá sempre pessoas inseguras ou desesperadas – pessoas sob pressão para sobreviver, prontas a abater a última floresta, apanhar o último peixe, vender a alguém sapatilhas, liquidar seja qual for o capital social, natural, cultural ou espiritual ainda disponível. Nunca poderá haver um tempo em que atinjamos o “suficiente” porque, num sistema de dívida baseado no lucro, o crédito não apenas troca “bens presentes por bens no futuro”, mas bens presentes por mais bens no futuro. Para servir a dívida ou apenas para viver, ou tiramos a riqueza existente de uma outra pessoa (daí, a competição) ou criamos “nova” riqueza extraindo-a das provisões comuns”

- Charles Einsenstein, Sacred Economics, Berkeley, Evolver Editions, 2011, pp.100-103.

sábado, 21 de dezembro de 2013

"Portugal ou se reformará política, intelectual e moralmente ou deixará de existir"


"Portugal ou se reformará política, intelectual e moralmente ou deixará de existir. Mas a reforma, para ser fecunda, deve partir de dentro e do mais fundo do nosso ser colectivo: deve ser, antes de tudo, uma reforma dos sentimentos e dos costumes"

- Antero de Quental, "Expiação", 1890.

"Temos vivido numa Idade de Separação"


“Temos vivido numa Idade de Separação. Um a um, dissolveram-se os nossos laços com a comunidade, a natureza e o lugar, abandonando-nos num mundo estranho. A perda destes laços é mais do que uma redução da nossa riqueza, é uma redução do nosso próprio ser. O empobrecimento que sentimos, isolados da comunidade e da natureza, é um empobrecimento das nossas almas. Isto porque, contrariamente ao que assume a economia, a biologia, a filosofia política, a psicologia e a religião institucional, nós não somos na essência seres separados que têm relações. Nós somos relação”

- Charles Eisenstein, Sacred Economics. Money, Gift & Society in the Age of Transition, Berkeley, Evolver Editions, 2011, p.49.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

"Em resumo: vazio interior – consumismo – fosso ecológico – fosso social”


“Os três fossos [espiritual-cultural, ecológico e sócio-económico] que compõem a superfície de sintomas [da crise] estão extremamente entrelaçados. Por exemplo, a perda de sentido na vida e no trabalho (o vazio interior) é frequentemente preenchido com mais consumo material (consumismo), o qual aprofunda o fosso ecológico por um maior esgotamento de recursos. A intensificação do fluxo da corrente de recursos naturais dos países em vias de desenvolvimento para os países desenvolvidos, e o fluxo das correntes de desperdício em sentido oposto, conduz por sua vez a um aprofundamento do fosso social. Em resumo: vazio interior – consumismo – fosso ecológico – fosso social”

- Otto Scharmer / Katrin Kaufer, Leading from the Emerging Future. From ego-system to eco-system economies, São Francisco, Berret-Koehler Publishers, 2013, p.40.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

O mito da separação entre nós e os outros é mortal


“Enquanto o fosso ecológico se baseia numa separação entre o eu e a natureza e o fosso social numa separação entre o eu e o outro, o fosso espiritual-cultural reflecte uma separação entre o eu e o Si – isto é, entre o nosso actual “eu” e o futuro “Si” emergente que representa o nosso maior potencial. Este fosso é manifesto em valores rapidamente crescentes de esgotamento e depressão, que representam o crescente abismo entre as nossas acções e quem nós realmente somos. De acordo com a World Health Organization (WHO), em 2000 morreram por suicídio mais do que o dobro das pessoas que morreram em guerras”

- Otto Scharmer / Katrin Kaufer, Leading from the Emerging Future. From ego-system to eco-system economies, São Francisco, Berret-Koehler Publishers, 2013, p.5.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

"Precisamos de uma espécie de despertar colectivo"


“Precisamos de uma espécie de despertar colectivo. Há entre nós homens e mulheres que estão despertos, mas não é suficiente; a maioria das pessoas ainda estão a dormir. Construímos um sistema que não podemos controlar. Ele impõe-se a nós e tornamo-nos os seus escravos e vítimas. Para a maioria de nós que querem ter uma casa, um carro, um frigorífico, uma televisão e assim por diante, temos de sacrificar o nosso tempo e as nossas vidas em troca. […] Criámos uma sociedade na qual os ricos se tornam mais ricos e os pobres mais pobres e na qual estamos tão apanhados nos nossos problemas imediatos que não nos podemos conceder estar conscientes do que é que se passa com o resto da família humana ou com o nosso planeta Terra. No meu espírito vejo um bando de galinhas numa gaiola lutando por umas poucas sementes de cereal, inconscientes de que dentro de poucas horas serão todas mortas”

- Thich Nhat Hanh, The Bells of Mindfulness, in Spiritual Ecology. The Cry of the Earth, 2013, p.26.

Tempo de Antena PAN 2013

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Ética e ecologia


“[…] tanto a ética como a ecologia pressupõem um habitar, no primeiro caso, humano, no segundo inerente a todos os seres vivos, que se dá num solo comum - a natureza e o mundo – e que se constitui mediante a relação mútua entre aqueles que habitam, mediada pela instância onde habitam. A questão está em saber se a semelhança deverá ou não ser levada até à identidade, ou seja, se a ética se deverá reduzir à ecologia e o homem ao estatuto de um qualquer outro ser natural, como pretende a “ecologia profunda”, ou se este, de algum modo, transcende a economia do todo, reclamando, para si, um estatuto à parte.

Mais uma vez, é a categoria de responsabilidade que permite resolver este dilema acerca do tópos humano, dado que apenas enquanto responsável pode o homem habitar na natureza e cohabitar com os outros seres vivos, ao mesmo tempo que a transcende, de modo a decidir sobre a melhor forma de preservar harmoniosamente essa cohabitação”

- Cristina Beckert, Ética, Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2012, pp.153-154.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Uma economia que destrói tudo


"(…) É uma economia do trabalho, da produção, (…) que toma conta da terra, das plantas, dos animais, dos homens, de tudo"

- Agostinho da Silva, Vida Conversável.