PAN - UM NOVO PARADIGMA

Vivemos o fim de ciclo de um paradigma civilizacional esgotado, o paradigma antropocêntrico, cuja exacerbação nos últimos séculos aumentou a devastação do planeta, a perda da biodiversidade e o sofrimento de homens e animais. Impõe-se um novo paradigma, uma nova visão/vivência da realidade, ideias, valores e símbolos que sejam a matriz de uma nova cultura e de uma metamorfose mental que se expresse em todas as esferas da actividade humana, religiosa, ética, científica, filosófica, artística, pedagógica, social, económica e política. Esse paradigma, intemporal e novíssimo, a descobrir e recriar, passa pela experiência da realidade como uma totalidade orgânica e complexa, onde todos os seres e ecossistemas são interdependentes, não podendo pensar-se o bem de uns em detrimento de outros e da harmonia global. Nesta visão holística da Vida, o ser humano não perde a sua especificidade, mas, em vez de se assumir como o dono do mundo, torna-se responsável pelo equilíbrio ecológico do planeta e pelo direito de todos os seres vivos à vida e ao bem-estar.

Herdando a palavra grega para designar o "Todo", bem como o nome do deus da natureza e dos animais, o PAN - Partido pelos Animais e pela Natureza - incarna esse paradigma na sociedade e na política portuguesas.

O objectivo deste blogue é divulgar e fomentar o debate em torno de contributos diversos, contemporâneos e de todos os tempos, para a formulação deste novo paradigma, nas letras, nas artes e nas ciências.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Proteger a diversidade cultural e biológica da biopirataria




“A biopirataria é o “Descobrimento” colombiano 500 anos após Colombo. As patentes são ainda os meios de proteger esta pirataria da riqueza dos povos não-ocidentais como um direito dos poderes ocidentais.

Mediante as patentes e a engenharia genética, estão a estabelecer-se novas colónias. A terra, as florestas, os rios, os oceanos e a atmosfera foram todos colonizados, corroídos e poluídos. O capital tem agora de procurar novas colónias para invadir e explorar para a sua futura acumulação. Estas novas colónias são, na minha visão, os espaços interiores dos corpos de mulheres, plantas e animais. Resistir à biopirataria é resistir à colonização final da própria vida – do futuro da evolução tal como do futuro das tradições não-ocidentais de se relacionar com a natureza e de a conhecer. É uma luta para proteger a liberdade evolutiva de diferentes espécies. É uma luta para proteger a liberdade evolutiva de diferentes culturas. É uma luta para conservar a diversidade tanto cultural como biológica”

- Vandana Shiva, Biopiracy. The Plunder of Nature and Knowledge [Biopirataria. A pilhagem da natureza e do conhecimento], Dartington / London, Green Books / Gaia Foundation, 1998, p.11.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Gandhi e a biocracia

“Gandhi concebeu uma nova trindade para realizar a sua visão de uma nova ordem social não-violenta. Chamou-lhe Sarvodaya, Swaraj e Swadeshi.

O primeiro [princípio] da sua trindade foi Sarvodaya, “a elevação de todos”. “Todos se erguem” – não uns poucos, como no capitalismo, nem sequer o maior bem do maior número, como no socialismo, mas cada um e todos devem ser cuidados. Isso é Sarvodaya. O sistema ocidental de governo baseia-se na regra da maioria e chama-se democracia. Isto não era suficientemente bom para Gandhi. Ele não queria nenhuma divisão entre a maioria e a minoria. Ele queria servir os interesses de todos. A democracia também se limita a cuidar dos interesses dos seres humanos. A democracia funcionando com o capitalismo favorece os poucos que possuem capital. A democracia com o socialismo favorece a maioria, mas limita-se ainda aos humanos. Sarvodaya inclui o cuidado da Terra – dos animais, das florestas, dos rios e do solo. A visão de Gandhi é melhor contida no conceito de biocracia do que no de democracia”

- Satish Kumar, Spiritual Compass, The Three Qualities of Life, Foxhole, Green Books, 2007, p.111.