J.M.G. Le Clézio
"As imensas cidades erguem os seus monumentos de betão cinzento, as praças são como lagos de cimento, os invólucros dos automóveis têm brilhos insuportáveis. Tudo está em permanência próximo da deflagração. São dissimuladas as razões. Não residem nas palavras da linguagem, visto as palavras não serem fixas - vivem, resvalam, escorregam, dividem-se como células.
Quero eu dizer: nada é coisa segura, e em parte nenhuma. Os pensamentos atravessam águas turvas, e vão tão longe que já não se lembram de onde terão partido. O universo é estável, é fixo, é uma evidência. Quando porém se o olha, racha e fende-se, abre os seus abismos, as suas partes ocas, os seus mistérios. No próprio dia existe a noite, e na luz, no centro do Sol, vê-se isto, que mete medo: uma singular mancha de sombra a medrar."
J.M.G. Le Clézio, Índio Branco, Fenda Edições, pp.78-79
0 comentários:
Enviar um comentário