Eu recuso-me a comer animais porque não posso alimentar-me do sofrimento e da morte de outras criaturas.
Recuso-me a fazer isto porque eu mesmo sofri tão dolorosamente que consigo sentir as dores dos outros pela lembrança dos meus próprios sofrimentos.
Eu sou feliz, ninguém me persegue; porque deveria eu perseguir outros seres ou causar-lhes sofrimento?
Eu sou feliz, não sou um prisioneiro; porque devo eu transformar outras criaturas em prisioneiros e lançá-las em jaulas?
Eu sou feliz, ninguém me está a magoar; porque deveria eu magoar os outros ou permitir que sejam magoados?
Eu sou feliz, ninguém me maltrata; ninguém me vai matar; porque deveria eu maltratar ou matar outras criaturas ou permitir que sejam maltratadas ou mortas para meu prazer e conveniência?
Não é natural que eu não inflija a outras criaturas a mesma coisa que eu espero que nunca me seja imposta? E que temo que o seja?
Não é a coisa mais injusta fazer estas coisas aos outros sem nenhum propósito além do gozo deste insignificante prazer físico, à custa de mortes e tormentos?
Estes seres são menores e mais desprotegidos do que eu, mas você pode imaginar um homem racional, de sentimentos nobres, que se baseasse nestas diferenças para afirmar o direito de abusar da fraqueza ou da inferioridade de outros?
Você não acha que é justamente o dever do maior, do mais forte, do superior, proteger a criatura mais fraca ao invés de a matar?
- Edgar Kupfer-Koberwitz (escritor, Polónia, 1906-1991; escrito no campo de concentração de Dachau).