PAN - UM NOVO PARADIGMA

Vivemos o fim de ciclo de um paradigma civilizacional esgotado, o paradigma antropocêntrico, cuja exacerbação nos últimos séculos aumentou a devastação do planeta, a perda da biodiversidade e o sofrimento de homens e animais. Impõe-se um novo paradigma, uma nova visão/vivência da realidade, ideias, valores e símbolos que sejam a matriz de uma nova cultura e de uma metamorfose mental que se expresse em todas as esferas da actividade humana, religiosa, ética, científica, filosófica, artística, pedagógica, social, económica e política. Esse paradigma, intemporal e novíssimo, a descobrir e recriar, passa pela experiência da realidade como uma totalidade orgânica e complexa, onde todos os seres e ecossistemas são interdependentes, não podendo pensar-se o bem de uns em detrimento de outros e da harmonia global. Nesta visão holística da Vida, o ser humano não perde a sua especificidade, mas, em vez de se assumir como o dono do mundo, torna-se responsável pelo equilíbrio ecológico do planeta e pelo direito de todos os seres vivos à vida e ao bem-estar.

Herdando a palavra grega para designar o "Todo", bem como o nome do deus da natureza e dos animais, o PAN - Partido pelos Animais e pela Natureza - incarna esse paradigma na sociedade e na política portuguesas.

O objectivo deste blogue é divulgar e fomentar o debate em torno de contributos diversos, contemporâneos e de todos os tempos, para a formulação deste novo paradigma, nas letras, nas artes e nas ciências.

terça-feira, 26 de abril de 2011

CÃES – SEMPRE TÃO LEAIS E TÃO AMIGOS!

(Esses, nunca nos abandonam!...)

Todos os dias, nas grandes cidades do nosso país, dezenas de cães são abandonados ou perdem-se dos seus “donos” (mais propriamente, dos seus “amigos mais próximos”, já que “dono” é uma triste designação). Ambas as realidades são terríveis. E ambas não encontram resposta civilizada por parte das autoridades camarárias.

Em ambos os casos, os cães são votados ao abandono indefinido, vagueando sem destino, na total desorientação ou, depois, doença e apatia. Pior, é o facto (a que nós os condenámos) de, nas ruas pavimentadas – privados de um habitat natural – não lhes restar alternativa, a menor hipótese de “lutar pela vida” em busca de alimento.

Quando o cão se perde

Diga, de si, quem teve esta angustiante experiência. O “dono” só pode contar consigo e com a ajuda de algumas pessoas mais próximas que, eventualmente, conheçam o animal perdido. Aflito, angustiado, o “don”o pode percorrer as ruas, ou afixar nas árvores e locais comerciais algumas fotocópias implorando atenção e ajuda na procura do seu terno amigo...

Nenhuma Instância devidamente organizada funciona como entreposto de recolha e restituição do animal. Nenhuma Instância devidamente se preocupa, o abriga e identifica a situação de perda, providenciando para que o dono o possa, com segurança, localizar. Deste modo, o animal, habituado que está à protecção e manutenção do lar, fica muito mais exposto e vulnerável do que o seria um cão selvagem, pois não gerou instintos de defesa e de sobrevivência. Desorienta-se com facilidade e, na sua busca acidentada, afasta-se mais e mais da zona de habitação, reduzindo cada vez mais a possibilidade de o dono o poder resgatar.

Por outro lado, um cão doméstico, mais do que um cão vadio, não sabe procurar comida. É, pois, uma crueldade – que diz respeito a todos nós, que é uma responsabilidade cívica e social – gerarmos um sistema que os confina à condição de nossos dependentes, de animais de companhia (por vezes de simples “luxo” ou ostentação), para depois não garantirmos a sua condigna sobrevivência.

Quando o cão é abandonado

Não adianta culparmos exclusivamente um dono que abandona o seu animal. Há casos e casos e casos... e, por vezes, pode surgir uma situação incontornável, uma completa impossibilidade de manter a guarda e cuidados do animal que foi nosso companheiro: uma situação de morte (do próprio “dono”), ou de grave doença incapacitante, uma mudança dramática e compulsiva das condições de vida ou de habitabilidade (como por exemplo, uma mudança de casa para onde não é permitido o arrendamento com animais), etc, etc.. E, para estes casos, é claro que deveria haver uma alternativa que não penalizasse o animal...

Não se trata aqui de desculpabilizar quem tenha maior ou menor grau de culpa. Tal não nos compete nem é o mais importante. O importante é obviarmos, todos, à tomada de consciência e de responsabilidade colectiva, que, essa sim, diz respeito a todos nós. Mais que tudo, interrogamo-nos ingentemente: por que não existe um sistema organizado, humanitário, que defenda estas pobres criaturas de um enorme sofrimento e de uma morte lenta?

Os canis municipais existentes envergonham-nos. Não se pode admitir um tal “encolher de ombros” das nossas autoridades – se querem, ao menos, que as respeitemos!... Não se pode admitir uma tal incúria num país que se quer “civilizado”. É dever do Estado prover as condições para albergue dos animais que nós, todos, tornámos indefesos e, em absoluto, dependentes da nossa intervenção solidária.

Isabel Nunes Governo

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Os Cancros Sociais e os Intocáveis

O trabalho enobrece, diz-se habitualmente. E assim é, com efeito, se esse trabalho é altruísta, útil e necessário.


Quando, porém, é ditado pela ambição e pela competição desenfreadas, por ditames caprichosos e prepotentes de quem se delicia a ver tudo a andar “a toque de caixa” só porque sim, pelo funcionar de uma “máquina” que não serve a fim algum, pela voracidade da fera humana, torna-se escravizante e desumano. Estupidifica, embrutece, gera um barulho contínuo que sufoca as vozes mais profundas no íntimo de cada Homem. Envolve-nos num turbilhão infindável de obrigações, técnicas, papeladas, trapalhadas…

Sucesso, carreira, empresa, riqueza, poder… frases, slogans e clichés sonantes (para aqueles em quem encontram eco) fazem impacto e encontram adesão em milhões e milhões que, como um insecto atraído por uma lâmpada, passam a girar à volta de ilusões e ilusões e ilusões, que primeiro acariciam e que depois são usadas para os controlar, manobrar e tornar numa peça mais de uma gigantesca engrenagem, de que poucos beneficiam e quase todos são vítimas.

Estamos no século XXI, no “admirável mundo novo” do progresso económico-material. Há muito já que ficou para trás a revolução industrial, a multiplicação de todos os tipos de serviços, o alargamento da tecnologia a praticamente todos os sectores salariais. Ainda há uma década, na Europa, se falava do “bem-estar social” (e tudo o que isso implica), como um escopo exemplar de uma nova civilização, alcançado ou a caminho de alcançar pelas nações mais vanguardistas e desenvolvidas. Entretanto, que mundo é o nosso, hoje?

Vieram as crises que, atrevemo-nos a dizer, dificilmente alguém compreendeu. Surpreendentemente, os grandes “craques” da economia, que logo se afadigaram em explicá-las, não as haviam previsto. Não sei se alguém explicou suficientemente que a crise de uns está ligada ao sucesso de outros e vice-versa. E as crises renovaram-se e refinaram-se. Hoje, surgem em semanas, em dias e horas, avassaladoras, gigantescas…

Acumulam-se legiões imensas de desempregados, e vamos vendo sempre o seu número a aumentar. As idades da reforma inverteram o ciclo e, em plena Europa, estão agora a galopar – quando o trabalho é cada vez mais exigente e desgastante, sob o chicote de avaliações, controlos, inspecções, relatórios, certificações, níveis de excelência e de todo o tipo de imposições e directrizes que se entenderam necessárias ou que, pura e simplesmente, se resolveu inventar. Em alguns países, os salários reais descem em flecha e afectam mesmo aqueles que vivem no limiar da pobreza. E tudo isto pode piorar ainda, a qualquer momento, se alguma agência de rating se lembrar de “desqualificar” um país, ou se os mercados estiverem agitados, nervosos…

Mas quem é essa “gente”? Mercados? Agências de rating? Quais os rostos, quais os desígnios, para que servem e a quem servem tais coisas que dispõem das vidas das multidões impotentes? Quem detém esse poder de, ao sabor das suas boas ou más disposições, moldar (para mais, degradando) as existências dos cidadãos de países, mais ainda, de regiões inteiras?

A maioria dos indivíduos, se está “agitado”, tem que se controlar. No limite, toma um calmante. Há outros métodos melhores. No entanto, se não se controlar (seja como for) e lesar gravemente a vida dos outros, pode ser preso ou penalizado de outra forma. Compreensivelmente…

E aos mercados financeiros, e às agências de rating, quem os controla? Onde estão os seus registos criminais? Quem os detém e quem os pune quando os seus pronunciamentos ciclónicos arrasam, estilhaçam e espatifam tudo e todos? Quem os pôs nesse pedestal titânico e tirânico?

Quem assume a responsabilidade global de impedir comportamentos (e/ou os seus efeitos) desastrosos para milhões de seres humanos?

Docilmente, fascinadamente, os adoradores do deus-dinheiro, do deus-empresa, do deus-trabalho profissional, do deus-materialismo acatam como oráculos infalíveis e incontestáveis os ditames dos chefes-de-fila da especulação financeira, e estão dispostos a tudo, para que a roda da (des)fortuna continue a girar! É sem surpresa que observamos os revolucionários materialistas de outrora, na mesma onda de egoísmo e alienação, passarem para lugares de honra do sistema (que diziam contestar). A programação sempre foi a mesma, no verso ou no reverso, de frente ou de costas, nesta passadeira infernal.

Deste modo, seguindo por este caminho, é de esperar que os oráculos financeiros continuem a exigir mais sacrifícios humanos, mais cortes (a palavra “sagrada” dos últimos tempos), mais carga e mais precariedade de trabalho. E a partir daqui, todas as manipulações, logros e enganos, todas as exigências e prepotências são possíveis: há que sujeitar-se a tudo para ter um emprego, ainda que a ganhar menos 5%, ou menos 10%, ou menos 30%; e a trabalhar mais 1 hora, mais 3 horas, mais 5 horas por dia; a fazer mais três, mais cinco, mais dez coisas; ainda que os cidadãos cheguem ao fim do dia esgotados, arrasados, comendo qualquer coisita, e logo se deixando cair na cama, exaustos. E a grande máquina continua a girar, e o monstro continua a crescer, e a alienação aumenta, mais e mais, com o homem cada vez mais perdido de si mesmo e da sua identidade real (que não é, não pode ser, a ocupação profissional que lhe “calhou” ter).

Entretanto, os Governos permanecem temerosos do imenso poder acumulado e detido pelos hiper-ricos. Estrebucham um pouco e limitam-se a pôr “paninhos quentes” na multiplicidade sempre crescente das feridas sociais. A última, que vem a afectar particularmente a Europa, diz respeito à nova idade da reforma instituída, o marco dos 67 anos.

Segundo as previsões, em 2040 a população da agora considerada 3ª idade será mais numerosa do que a infantil. E essa, provavelmente até aos 70 anos, quem sabe se até aos 75 ou mais, estará ainda no activo, e terá de competir com os mais novos no mercado de trabalho, mesmo que se arraste, mesmo que gema, mesmo que consuma numa luta cruel as últimas energias.

Pensemos com clareza: é isto que queremos? É isto bom? É isto uma fatalidade? O que é que estamos a construir para nós mesmos?

O monstro de uma sociedade materialista, capitalista e de especulação financeira que colectivamente vimos construindo, emancipou-se, ganhou vida própria, e hoje exige-nos demasiados tributos, tremendos sacrifícios.

Rasgou-se, ou melhor, tem vindo lentamente a esgaçar-se o tecido orgânico da Sociedade que construímos. O fosso entre os poucos que têm muito (e cada vez mais) e os muitos que têm pouco, alargou-se novamente. Estas situações acabam, mais tarde ou mais cedo, por gerar convulsões graves e por vezes violentas; e quem hoje está na mó de cima pode amanhã ser um alcatruz a submergir…

Estamos convictos de que virá o tempo em que será universalmente definido que as hiper-fortunas particulares, detidas por uma só pessoa ou agregado familiar, sem que beneficiem o bem geral, terão de ser vistas como um crime público – um crime que afecta gravemente a comunidade e o país onde se integram, ao serviço dos quais têm de ser utilizadas.

Com efeito, ao abrigo da intocabilidade dos donos das hiper-fortunas, milhões dos seus congéneres são arrastados para a perpétua privação, para a miséria, para a doença – e, por extensão, para o desemprego. Não se exagera quando se desenha um tal quadro. E é um facto que grande número dessas fortunas pessoais – a partir de um certo montante – não aproveitam sequer ao(s) próprio(s) detentores, que nem teria(m) possibilidades de gastar os recursos materiais acumulados. Objectivamente, são como que um cancro na sociedade. São energia forçosamente parada, cristalizada.

Na verdade, estamos todos aturdidos e esmagados pela nossa impotência colectiva. Muitos cidadãos (mesmo os mais novos) não ousam sequer pensar em termos de futuro, especialmente quando se trata do futuro longínquo (para tanto falta a coragem e a energia psicológica…). Quem pode asseverar que ao rondar a casa dos setenta anos terá vigor, saúde e ânimo para suportar as exigências físicas e psicológicas da comparência diária no trabalho externo? E como, com tal idade, se poderá competir com os mais jovens na manutenção do seu trabalho ou no acesso a um outro? É no mínimo irrealista e desumano. Estamos todos a “chutar para a frente” a assunção honesta, e a resolução cabal, deste problema…

Não preconizamos a pilhagem, o ódio, a violência arbitrária. Mas é impossível esquivarmo-nos ao facto incontornável: o que nunca foi mexido, terá de o ser. Não podemos adiar a distribuição mais equitativa dos proventos e recursos económicos a que todos têm direito. Novas leis e novos paradigmas que consignem o desígnio da Justiça social deverão ser criados e postos em prática. Isto não é futurologia, é algo de inevitável, numa assunção de civilidade.

Chegará também o tempo em que mecanismos internacionais justos e eficazes ponham termo aos excessos da especulação financeira e dos grandes usurários do mundo.

Num futuro breve, provavelmente, o direito a um emprego (pelo menos, no sentido que hoje lhe damos) será rotativo. A sociedade terá de ser participativa em termos produtivos, como é óbvio; contudo, e porque não haverá “empregos” – transversalmente e a tempo inteiro – para todos, a distribuição e atribuição de um lugar no mercado de trabalho não poderá, de modo nenhum, ser condição e ditar o direito à subsistência, aos bens comuns e essenciais.

É chocante? Talvez… Mas de uma coisa estamos certos – a noção e o entendimento colectivo estabelecidos de que apenas quando se tiver um “emprego” se tem direito à (con-)dignidade humana, terão de ser revogados. E tendo este horizonte incontornável pela frente, teremos todos, em conjunto, de criar novas formas de viver e compreender o sentido de Civilização. Caso contrário, o trajecto negro e cego que nos espera será o da regressão, por onde podem vogar as já esquecidas sombras da “animalidade”…

José Manuel Anacleto

Renovar o espírito do 25 de Abril e estendê-lo a todos os seres





Há que renovar o espírito original do 25 de Abril e estendê-lo a todos os seres vivos, humanos e não-humanos, bem como à relação do homem com a natureza e o planeta. Como entre nós tão bem o viu e disse Antero de Quental, há em todos os seres uma aspiração profunda, consciente ou inconsciente, à liberdade. Cabe ao homem promovê-la e respeitá-la.

domingo, 24 de abril de 2011

Páscoa - uma reflexão incómoda

Comemora-se hoje o Domingo de Páscoa, uma das grandes festas da Cristandade e da cultura ocidental. Religiosos ou não, milhões de seres humanos, em Portugal e no mundo, estão a reunir-se em família à volta dos mais diversos petiscos e iguarias, comungando e celebrando a alegria e o prazer de estarem juntos na maravilhosa aventura da vida.

É humano. Mas será também humano não terem consciência ou procurarem esquecer que, ao fazê-lo, estão na imensa maioria dos casos a usufruir de uma alegria e de um prazer obtidos à custa do sacrifício involuntário, forçado, violento e doloroso de muitos milhões de vidas de animais, indivíduos conscientes e sencientes que, tal como nós, têm um interesse fundamental em estar vivos, com liberdade e bem-estar?

Páscoa, do hebreu Pésah, deriva provavelmente do verbo pasah, “saltar por cima” e assumiu o sentido de passagem, correspondendo nos nossos calendários a um tempo de regeneração. O filósofo judeu Fílon de Alexandria, contemporâneo de Cristo, viu a Páscoa como a libertação do espírito do domínio das paixões obscuras. E Cristo foi assumido pelos cristãos como aquele que dá a vida e o sangue pelos outros, pondo fim a todo o sacrifício sangrento do outro, humano ou animal. É nessa mutação ética e espiritual que consiste a verdadeira Ressurreição, que nos evangelhos gnósticos, como o de Filipe, é algo a viver desde já, em vida, e não após a morte. Algo a viver a cada instante e não só num Domingo por ano.

Parece evidente não ser esse o exemplo que seguimos, quando nos banqueteamos com a carne dos animais (terrestres ou aquáticos). Parece evidente que na Páscoa que inconscientemente celebramos nada há de “saltar por cima”, de transcender, de ir além dos nossos apetites mais irracionais e dos nossos hábitos familiares e sociais mais enraizados. Parece evidente que nesta Páscoa nada há de pascal, como no Natal nada há de natalício, sempre que um homem novo não nasça no presépio da alma.

Mas se é humano ter hábitos, mais humano ainda é reflectir sobre eles e questioná-los. Apelo por isso a que hoje, quando nos debruçarmos sobre as mesas familiares adornadas e repletas dos mais apetecíveis manjares, sejamos capazes de contemplar nem que seja um minuto a crua realidade de estarem cheias dos corpos dilacerados de seres antes vivos como nós, a maioria deles criados em condições de holocausto e abatidos para nos proporcionarem uns brevíssimos minutos de prazer sensorial e fútil, que logo se desvanece para nos deixar com a mesma insatisfação de sempre. E então, se não somos ainda capazes de renunciar a esse alimento, levemo-lo à boca, mastiguemo-lo e engulamo-lo. Mas com um mínimo de consciência e compaixão pelo companheiro de existência a quem fazemos passar pelo que mais tememos e menos desejamos: a morte violenta, sem que a nossa vida disso dependa.

Será incómodo, decerto, mas valerá a pena. Tornará a nossa Páscoa menos cega e mais pascal, mais propícia a uma transformação da consciência, a uma passagem, a um ir para além da nossa ignorância e insensibilidade. Será um daqueles incómodos que nos tornam seres humanos melhores. Sobretudo se, na nossa tomada de consciência do sofrimento dos animais, não esquecermos o dos homens, o de todos os seres, abrindo o coração à infinita compaixão pela dor do mundo. É isso que nos pode abrir o caminho da grande e verdadeira Alegria, a de ver que é possível acabar com o sofrimento, começando por aquele de que somos directamente responsáveis.

24.04.2011 - Domingo de Páscoa

sábado, 23 de abril de 2011

Miguel Esteves Cardoso declara votar no PAN

"O meu voto

No PÚBLICO de Domingo muito me animou ler a notícia “PAN quer eleger pelo menos um deputado”. Sou amigo de Paulo Borges, o presidente do Partido pelos Animais e pela Natureza, apesar de já não falar com ele há 25 anos. É uma pessoa sábia e pensativa, generosa e boa, altruísta e imaginativa, um estudioso e um estudante permanentemente activo e curioso, que agora teve a coragem e a paciência de criar um partido.

Mas também a audácia: “Se a ‘conjuntura’ não o permitir, [Paulo Borges] acrescentou [que] espera conseguir, no mínimo, a margem dos 50 mil votos e um posicionamento como o maior dos partidos mais pequenos”.

Mostra como se pode ser humilde e audaz ao mesmo tempo. Eleger ou quase-eleger um deputado do PAN bastará para ajudar um bocadinho os animais tão maltratados e tão cruelmente assassinados deste país. Que me perdoe o meu verdadeiro amigo Paulo Portas, mas vou votar no Paulo Borges. Até porque o primeiro facilmente votaria no segundo. Leia-se o que o PAN tem para dizer: http://www.partidoanimaisnatureza.com.

Reduz-se o PAN a um partido verdadeiramente ecológico, budista e humanista. Mas, quando se vai ver o programa político, admira-se a sofisticação e o realismo práticos, pela profundidade intelectual das preocupações. O PAN é antimilitarista mas acredita na NATO. Transcende a direita e a esquerda. Confunde e esclarece. Insiste no amor e na compaixão. Quer - e nem sequer quer — um único deputado. Vote nele, se puder. Ou ousar."

- Miguel Esteves Cardoso, no "Público" de 22.04.2011.

Agradeço as palavras generosas de um velho amigo, que aceito no que diz respeito ao PAN, mas não à minha pessoa.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Para uma política com coração

"Para ser compassivo e justo, um governo deve proteger todos os que vivem sob a sua alçada, não apenas aqueles que acontece serem humanos" - Norm Phelps, "The Great Compassion", New York, Lantern Books, 2004, p.54.

domingo, 10 de abril de 2011

Chénĕśh, o criador, partiu para criar o mundo e levou consigo o seu cão.

(Mito cosmogónico dos índios Kato)

segunda-feira, 4 de abril de 2011

‎"Cada um compartilha da responsabilidade pelo presente e pelo futuro, pelo bem-estar da família humana e de todos os seres vivos"

- Carta da Terra (1994).

A mitologia da superioridade humana



"As pessoas da tua cultura agarram-se com uma tenacidade fanática à ideia de que o homem é especial. Querem desesperadamente perceber um imenso abismo entre o homem e o resto da criação. Esta mitologia da superioridade humana justifica que façam o que muito bem entendam com o mundo, assim como a mitologia da superioridade ariana de Hitler justificou que fizesse ele o que muito bem entendeu com a Europa"

- Daniel Quinn, Ismael. Como o mundo veio a ser o que é, Porto, Via Óptima, 2001, p.118.

A superior possibilidade do homem pode ser a de estar ao serviço do bem dos outros seres, não a de se servir deles...

sábado, 2 de abril de 2011

Para uma ciência integrada na matriz de uma nova cultura holística – (12ª) breve reflexão

Almejemos um País das Maravilhas* e, tal como Alice, ousemos passar para o outro lado do espelho das nossas representações saturadas de pré-conceitos redutores, alienantes, desactualizados, desviantes. Demos asas à imaginação e procuremos esse lado onde reine a predisposição para servir lúcida, equilibrada e desinteressadamente ao bem comum. Esse reino onde o separativismo característico da inteligência concreta é superado pelo pensamento abrangente da razão pura-abstracta iluminada pela luz vivificadora da intuição-amor-sabedoria-compaixão. Esse reino onde o conhecimento é não-dual e naturalmente se coloca ao serviço da Vida, numa postura livre de toda a mesquinhez e utilitarismo imediatista. Será assim tão irrealizável?... Preferimos pensá-lo como algo urgentemente irrecusável!

* Sobre esta ideia ver, P. Borges “Uma Visão Armilar do Mundo”, Verbo, Edição Babel, 2010, Lisboa, p. 216.