Como suponho acontecer com todos os que não se consideram nem pretendem parecer omniscientes ou infalíveis e que reflectem não apenas sobre o mundo dito externo ou objectivo mas, também sobre si próprios,
já mudei várias vezes de opinião, já alterei pontos de vista que outrora tive por correctos, já tomei consciência de que me enganei.
Ainda em outras situações, só mais tarde conseguir entender a que ponto estava condicionado ou a partir de preconcebidos (sem dar por isso) nos meus pensamentos nas avaliações que fazia sobre este ou aquele aspecto.
Dito isto, estou mais à vontade para apresentar um artigo que escrevi e editei há nove anos atrás e que, ao reler a esta distância, constato como antecipava a aquilo que escapou a muitos dos especialistas de economia – ou, melhor, a muitos dos cultores do economicismo “puro e duro”.
O PÊNDULO DO RELÓGIO
Durante grande parte do século XX, sobretudo nas décadas de 40 a 80, os regimes e os partidos comunistas, ou semelhantes, implantaram-se e ganharam força numa grande parte do mundo. Constituíram uma realidade complexa, onde se misturaram ideias altruístas e pessoas generosas, com princípios equivocados e práticas monstruosas. Depois, vieram os sinais e, posteriormente, as evidências do seu declínio. Em muitos aspectos, ainda bem que assim foi.
Entretanto, uma onda avassaladora de neo-liberalismo, agora sem praticamente encontrar resistência, inundou o mundo quase inteiro. Com uma agressividade refinada, com uma promessa, explícita ou implícita, de bem estar fácil e imediato, com um apelo irresistível aos prazeres do consumismo, parece ter convertido e submetido tudo e todos, encontrando os mais surpreendentes aliados. Com honrosas e elogiáveis excepções, o poder económico usa e abusa, põe e dispõe, domina, explora, controla, manipula e deita fora – seres humanos -, de maneira fria, impiedosa, desumana e quase ilimitada.
Apesar de todos os seus erros e horrores, o comunismo (ou o medo do comunismo) representava, afinal, um freio para um economicismo capitalista desumano e desenfreado. Não obstante os seus exageros de retórica e (por vezes) injusta agressividade, o sindicalismo de há décadas atrás era, afinal, moderador da prepotência e da indiferença de quem detém o poder económico. Agora, parece não haver limites.
No entanto, o passado mostra-nos à evidência os movimentos pendulares do relógio da História. Tenha-se lucidez, bom senso e visão: é preciso pôr limites equilibrados, humanos e justos a estes excessos neo-liberais. Caso contrário, não nos iludamos: advirão enormes convulsões sociais, levantar-se-ão legiões de desempregados, de homens e mulheres desesperados e sem futuro, surgirão movimentos tão ameaçadores como os que deram origem às piores ditaduras – de esquerda ou de direita – do século que passou. Não é preciso nenhum dom de profecia para o ver...
José Manuel Anacleto
(Artigo publicado em 2002 na revista Biosofia)
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