PAN - UM NOVO PARADIGMA

Vivemos o fim de ciclo de um paradigma civilizacional esgotado, o paradigma antropocêntrico, cuja exacerbação nos últimos séculos aumentou a devastação do planeta, a perda da biodiversidade e o sofrimento de homens e animais. Impõe-se um novo paradigma, uma nova visão/vivência da realidade, ideias, valores e símbolos que sejam a matriz de uma nova cultura e de uma metamorfose mental que se expresse em todas as esferas da actividade humana, religiosa, ética, científica, filosófica, artística, pedagógica, social, económica e política. Esse paradigma, intemporal e novíssimo, a descobrir e recriar, passa pela experiência da realidade como uma totalidade orgânica e complexa, onde todos os seres e ecossistemas são interdependentes, não podendo pensar-se o bem de uns em detrimento de outros e da harmonia global. Nesta visão holística da Vida, o ser humano não perde a sua especificidade, mas, em vez de se assumir como o dono do mundo, torna-se responsável pelo equilíbrio ecológico do planeta e pelo direito de todos os seres vivos à vida e ao bem-estar.

Herdando a palavra grega para designar o "Todo", bem como o nome do deus da natureza e dos animais, o PAN - Partido pelos Animais e pela Natureza - incarna esse paradigma na sociedade e na política portuguesas.

O objectivo deste blogue é divulgar e fomentar o debate em torno de contributos diversos, contemporâneos e de todos os tempos, para a formulação deste novo paradigma, nas letras, nas artes e nas ciências.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

O PREVISÍVEL COLAPSO

Como suponho acontecer com todos os que não se consideram nem pretendem parecer omniscientes ou infalíveis e que reflectem não apenas sobre o mundo dito externo ou objectivo mas, também sobre si próprios,

já mudei várias vezes de opinião, já alterei pontos de vista que outrora tive por correctos, já tomei consciência de que me enganei.

Ainda em outras situações, só mais tarde conseguir entender a que ponto estava condicionado ou a partir de preconcebidos (sem dar por isso) nos meus pensamentos nas avaliações que fazia sobre este ou aquele aspecto.

Dito isto, estou mais à vontade para apresentar um artigo que escrevi e editei há nove anos atrás e que, ao reler a esta distância, constato como antecipava a aquilo que escapou a muitos dos especialistas de economia – ou, melhor, a muitos dos cultores do economicismo “puro e duro”.

O PÊNDULO DO RELÓGIO

Durante grande parte do século XX, sobretudo nas décadas de 40 a 80, os regimes e os partidos comunistas, ou semelhantes, implantaram-se e ganharam força numa grande parte do mundo. Constituíram uma realidade complexa, onde se misturaram ideias altruístas e pessoas generosas, com princípios equivocados e práticas monstruosas. Depois, vieram os sinais e, posteriormente, as evidências do seu declínio. Em muitos aspectos, ainda bem que assim foi.

Entretanto, uma onda avassaladora de neo-liberalismo, agora sem praticamente encontrar resistência, inundou o mundo quase inteiro. Com uma agressividade refinada, com uma promessa, explícita ou implícita, de bem estar fácil e imediato, com um apelo irresistível aos prazeres do consumismo, parece ter convertido e submetido tudo e todos, encontrando os mais surpreendentes aliados. Com honrosas e elogiáveis excepções, o poder económico usa e abusa, põe e dispõe, domina, explora, controla, manipula e deita fora – seres humanos -, de maneira fria, impiedosa, desumana e quase ilimitada.

Apesar de todos os seus erros e horrores, o comunismo (ou o medo do comunismo) representava, afinal, um freio para um economicismo capitalista desumano e desenfreado. Não obstante os seus exageros de retórica e (por vezes) injusta agressividade, o sindicalismo de há décadas atrás era, afinal, moderador da prepotência e da indiferença de quem detém o poder económico. Agora, parece não haver limites.

No entanto, o passado mostra-nos à evidência os movimentos pendulares do relógio da História. Tenha-se lucidez, bom senso e visão: é preciso pôr limites equilibrados, humanos e justos a estes excessos neo-liberais. Caso contrário, não nos iludamos: advirão enormes convulsões sociais, levantar-se-ão legiões de desempregados, de homens e mulheres desesperados e sem futuro, surgirão movimentos tão ameaçadores como os que deram origem às piores ditaduras – de esquerda ou de direita – do século que passou. Não é preciso nenhum dom de profecia para o ver...

José Manuel Anacleto

(Artigo publicado em 2002 na revista Biosofia)

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