Televisões, rádios e jornais, noticiários, analistas e comentadores, repetem a toda a hora as palavras que todos já conhecemos de cor: sacrifícios, crise, cortes, instabilidade dos mercados. Os mercados, sobretudo. E mais as agências de rating.
Deve certamente haver alguma razão para tudo isto, mas faz-nos confusão o excesso com que os mercados, as suas instabilidades e caprichos, e toda esta engrenagem em que uma minoria de especuladores arrastam milhares de milhões (de pessoas, não de dólares, euros, libras ou ienes) para passarem anos-vidas inteiras como animais de carga, a quem se cortam as rações. Como se não fosse já suficientemente mau o que fazemos aos animais…
Não aderimos ao culto destes deuses contemporâneos: mercados, empresas, produtividade, competitividade, deficits, orçamentos, cortes e tal e tal!
Para onde vai a nossa celebrada civilização de progresso? Seremos mesmo “civilização”? Será tudo isto, mesmo, progresso? Que progresso é esse, de quem e para onde? Ou será apenas – ou em grande parte – alienação e dependências?
Quem vai dentro deste comboio infernal continua a gritar de excitação mas se conseguíssemos vê-lo de fora, que pensaríamos do caminho por onde segue e de tudo e todos por cima dos quais vai passando, no seu trilhar vertiginoso?
O problema será o de estar a haver uma crise – ou será que é todo um conjunto de princípios que estão errados de raiz?
José Manuel Anacleto
(texto publicado no nº 37 da revista Biosofia)
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