A palavra “economia”[1] vem do grego “oikos” (ὁ), os bens, e de “nómos” (ὁ), a lei. O “oἰkonómos” seria então o administrador dos bens, o que geria os bens da casa, “oἰkía”. Ora, se em acto de Amor, em ética fraterna, entendermos por "casa" toda a Natureza[2], afinal também o somatório de todas as formas que servem de veículos à prossecução da Vida, temos necessariamente de entender a gestão da “casa” como a administração integradora de todo o conjunto dos ecossistemas que habitam a Casa-Mãe, o Planeta Terra. Deste modo, deixará de haver gestão alienante, progressivamente substituída pela administração/governação dos que cumprem e mostram as leis que regem a Vida, dos princípios subjacentes a toda a Natureza. Deste modo, Terra, Ecossistema, Vida, Natureza, todos os reinos vivenciais – quer se lhes atribua ou não “senciência” – não mais poderão ser entendidos como separados e fragmentados segundo as visões paranóicas, antropocêntricas, especistas ou mesmo hedonistas. Serão, isso sim, experienciados como subsistemas interdependentes cujas unidades estão absolutamente interligadas e interdependentes.
No entanto, como sabemos, uma ideia mais profunda de administração/governação daquilo que é comum à Casa-Mãe – a “oiconómia”, necessariamente abrangente e fraterna – quando introduzida em mentes de superfície nada mais ocasiona do que desaires, como se tem visto e se verá, ocorrendo as ditas “desventuras” com pesadas consequências para todos, mas tantas vezes originadas na mediocridade dos que, metidos a seguidores dos Mistérios de Hércules, nada mais fazem do que introduzir severas distorções no Grande Sistema.
Deste modo, temos de contribuir para a progressiva substituição da ideia absurda porque redutora de “economia” – enquanto materialismo amplamente poluidor, de pendor biocídico e zoofóbico, assente na matriz assassina da separatividade, sempre geradora de sofrimento a animais humanos e não humanos – por uma “Oiconómia”, uma vivência segundo as Leis da Natureza, da Vida, da Casa-Mãe que todos experienciamos e na qual, sem exclusão de partes, coabitamos e residimos.
Segundo este modelo fraterno e abarcante, antropocentrismos, especismos e hedonismos[3], são patologias do pensar e do mal conviver, um poderoso antídoto às simbioses que remetem à completude e abarcância da Vida.
Assim, para todos, sem excepção, esta humilde chamada de atenção que não é um nó de exclusão mas sim uma abertura de inclusão, uma sugestão de integração, onde cada um é simultaneamente um e muitos, para que todos sejamos tudo e todo, simples e reluzentes notas harmónicas na grande sinfonia da Vida, contribuindo para uma progressiva redução das tensões que, mesmo assim, enquanto movimento, remetem tendencialmente e sempre para o acorde fundamental, para uma «harmonia das esferas». Digamos sim à Vida, façamos coro harmonioso dentro da Natureza!
António E. R. Faria
[1] Muito se fala de economia! Economia para aqui, economia para ali, economia como a tábua de salvação, remédio miraculoso que, segundo alguns e à revelia do mais elementar bom senso, nos conduzirá alegadamente a céus vivenciais! Equivocar-se-ão esses, os do pregão balofo e insensato, nada mais fazendo do que sorrateiramente divulgar os “paraísos” de entrada reservada enquanto todos os outros, a esmagadora maioria, humanos e não humanos, se arrastam como meros “carregadores”, calhando-lhes em sorte a abundância da precariedade e as vivências de sofrimento, geradas em boa medida por essa meia dúzia de ignorantes (da Vida) metidos a hábeis gestores da dominação.
[2] E não somente os bens, entendidos como o que se pode dispor a bel-prazer, à revelia do direito à felicidade inerente a todos os seres sencientes e ao equilíbrio dos ecossistemas.
[3]Esses egos enormes, sempre em busca de novos prazeres, que tendencialmente introjectam o mundo numa espécie de neurose obsessiva de afectividade viscosa, deliciando-se amiúde a capturar os outros egos.
2 comentários:
Q a economia seja, então, uma ciência do bem, suportada pela ética e pelo fraternal amor, tão bem enfatizados pelo autor.
Isso mesmo
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