“[...] a questão
é: ou salvar a Terra ou fazer bons negócios. Trata-se de uma disjunção
exclusiva: ambas as propostas não são simultaneamente viáveis.
O desajuste
último, o que condena de forma inapelável este sistema económico – o
capitalismo que precisa de uma expansão constante, ainda que se encontre dentro
de uma biosfera finita - , é uma ideia errada: tratar de viver dentro de um
planeta esférico e limitado como se se tratasse de uma Terra plana e ilimitada.
Como se os
recursos naturais fossem infinitos, como se a entropia não existisse, como se
nós, seres humanos, fôssemos omnipotentes e imortais.
[…]
Basta fazer
contas durante dez minutos para sabermos que esta civilização está condenada.
[…]
E o capitalismo
persegue um valor de produção comensurável com o reembolso da dívida… Puro wishful thinking: porém a semelhantes
disparates se subordinam as políticas e as vidas humanas (tal como as não
humanas, claro está) sob o domínio do capital.
Endividar-se
para crescer e crescer para pagar as dívidas: assim se ligam capitalismo
financeiro e devastação ecológica.
Não há no
planeta Terra recursos naturais suficientes para pagar a dívida emitida,
acumulada, aceitada. Essa montanha de dinheiro virtual há-de ser denunciada (a
banca privada é uma das instituições que não podemos permitir-nos numa
sociedade sustentável).
Um sistema
sócio-económico que só sabe abordar a realidade – as realidades – em termos de
rentabilidade e benefício está condenado. Isto é óbvio […].
Continuar a
pensar hoje em termos de business as
usual – mais crescimento do consumo para que estique a produção; mais
aumento da produção para incrementar o consumo; mais endividamento para crescer
mais; mais crescimento para pagar a dívida – é equivalente a sermos crianças de
35 anos que esperneiam no chão: não é verdade, não pode ser, o Pai Natal
existe, não são os pais!
Porém já vamos
sendo cresciditos, não é verdade!? Já se nos pode dizer que o Pai Natal são os
pais? E que o “desenvolvimento sustentável” baseado num suposto desajuste (decoupling) entre crescimento económico
e impacto ambiental é engano dos poderosos ou autoengano?”
- Jorge Riechmann, Interdependientes y Ecodependientes,
2012, pp. 425-427.
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