PAN - UM NOVO PARADIGMA

Vivemos o fim de ciclo de um paradigma civilizacional esgotado, o paradigma antropocêntrico, cuja exacerbação nos últimos séculos aumentou a devastação do planeta, a perda da biodiversidade e o sofrimento de homens e animais. Impõe-se um novo paradigma, uma nova visão/vivência da realidade, ideias, valores e símbolos que sejam a matriz de uma nova cultura e de uma metamorfose mental que se expresse em todas as esferas da actividade humana, religiosa, ética, científica, filosófica, artística, pedagógica, social, económica e política. Esse paradigma, intemporal e novíssimo, a descobrir e recriar, passa pela experiência da realidade como uma totalidade orgânica e complexa, onde todos os seres e ecossistemas são interdependentes, não podendo pensar-se o bem de uns em detrimento de outros e da harmonia global. Nesta visão holística da Vida, o ser humano não perde a sua especificidade, mas, em vez de se assumir como o dono do mundo, torna-se responsável pelo equilíbrio ecológico do planeta e pelo direito de todos os seres vivos à vida e ao bem-estar.

Herdando a palavra grega para designar o "Todo", bem como o nome do deus da natureza e dos animais, o PAN - Partido pelos Animais e pela Natureza - incarna esse paradigma na sociedade e na política portuguesas.

O objectivo deste blogue é divulgar e fomentar o debate em torno de contributos diversos, contemporâneos e de todos os tempos, para a formulação deste novo paradigma, nas letras, nas artes e nas ciências.

domingo, 20 de março de 2011

16 pontos para um novo paradigma de Cultura

1 – A origem etimológica reside na raiz indo-europeia kwel, que evoca a roda e o movimento de rotação, sendo daí que vem o sânscrito chakra e o latino colere, do qual procede o latino cultura, no sentido literal de “(re)colher” e “mover-se habilmente” no cultivo da terra e no sentido figurado de cultivar o espírito (“cultura animi”, em Cícero).

2 - O verbo colere possui os sentidos de cultivar, cuidar; ocupar-se de; honrar, respeitar; proteger, vigiar (como acções dos deuses); habitar, morar; granjear as graças de alguém.

3 - A cultura é inseparável de um movimento de rotação, circular e cíclico, que representa o dinamismo do mundo, da vida e da existência e implica o regressar constante à origem.

4 - A cultura supõe originariamente um cultivo atento, cuidadoso, respeitoso e protector, seja do lugar onde se habita, a terra e a natureza, seja da mente, que pode assumir a forma de um respeito religioso. Daí a proximidade entre cultura, agricultura e culto .

5 - É suposto que a cultura, fundada na compreensão das leis que regem os fenómenos e a vida no seu dinamismo e metamorfose cíclicos, seja a actividade pela qual se potencia toda a fecundidade da terra, da natureza e da mente, respeitando-as, cuidando-as e recolhendo os seus frutos, no reconhecimento do seu valor intrínseco (por vezes sagrado), sem a violência de as reduzir a um mero instrumento.

6 – A afinidade original entre cultura e agricultura sugere que numa e noutra se colhe o que se semeia, o que na cultura se aplica não só à relação do homem com a terra, mas também com a natureza em geral, com os seres vivos, humanos e não humanos, e consigo mesmo.

7 - Em função da cultura que praticar, com ou sem cuidado e respeito pela terra, pela natureza e pela mente, assim o homem colherá (de colere) frutos sãos ou doentes, assim o homem terá uma terra, uma natureza e uma mente sãs ou doentes.

8 – Não é uma cultura do cuidado e do respeito que tem predominado no presente (fim de) ciclo civilizacional, ao longo do qual a cultura humana, esquecendo as suas origens cósmicas e naturais e a sua radicação no comportamento dos próprios animais , cada vez mais se viu e valorizou como o processo de separação entre o homem, a natureza e os seres vivos.

9 – Os homens objectivam a natureza e os seres vivos, humanos e não-humanos, como exteriores a si e consideram-nos como adversários a vencer, dominando-os, domesticando-os e instrumentalizando-os para fins antropocêntricos que lhes negam qualquer valor intrínseco e os privam de consideração ética .

10 - Isto aconteceu sobretudo a partir da revolução mecanista do século XVII e da primeira e segunda revolução industrial, pensando-se estar em curso o progresso histórico e linear da humanidade em direcção ao “Paraíso” terrestre da abundância económica e do domínio científico-tecnológico sobre a natureza e a vida .

11 – A ilusão e as consequências desta atitude, agravada pela explosão demográfica, pelo aumento do potencial tecnológico e pelo capitalismo económico, produtivista e consumista, liberal ou (dito) socialista, são hoje dramaticamente visíveis em todo o planeta, na poluição e esgotamento dos recursos naturais, nas alterações climáticas, na destruição da biodiversidade, na exploração e massacre dos seres vivos, humanos e não humanos, e na d,egradação da qualidade de vida social, física e mental da humanidade.

12 - Esquecendo na sua arrogância ser inseparável da terra, da natureza e dos seres vivos - relaciona-se o latino homo (homem) com humus (solo, terra), de onde deriva “humildade” - , pervertendo o sentido originário da cultura - cultura de integração harmoniosa no mundo e não de desintegração violenta - , o homem re-colhe (colere) não os frutos salutares do cultivo amoroso da terra e do espírito, mas os efeitos destrutivos da sua própria violência, que hoje e a curto prazo põe em perigo a própria vida de largas camadas da população planetária.

13 – É a Hora urgente de recordar que, de acordo com a sua própria etimologia, enquanto dinamismo que implica o constante regresso à origem como condição evolutiva, a cultura humana tem de reassumir, sob risco de se autodestruir, a vocação originária de rodar em harmonia com as leis da natureza e da vida.

14 - Isto supõe e exige uma profunda transformação do actual paradigma mental e ético, mas também social, económico e político, que possa conduzir a uma nova civilização.

15 – O novo paradigma tem de se basear no respeito pelo valor intrínseco da natureza e de todas as formas de vida, bem como no reconhecimento dos direitos dos animais humanos e não humanos à vida e ao bem-estar. A humanidade tem de reaprender a viver de acordo com as leis fundamentais da natureza e da vida, nos domínios da saúde, da alimentação, da habitação, da educação e da vida espiritual, social, económica e política.

16 - Formular, expressar e viver de acordo com estas implicações é o desafio urgente que incumbe a pensadores, artistas, cientistas e religiosos, bem como a todos aqueles que queiram contribuir para preservar e regenerar uma cultura sã e autêntica nesta encruzilhada em que a barbárie a todos ameaça.

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