PAN - UM NOVO PARADIGMA

Vivemos o fim de ciclo de um paradigma civilizacional esgotado, o paradigma antropocêntrico, cuja exacerbação nos últimos séculos aumentou a devastação do planeta, a perda da biodiversidade e o sofrimento de homens e animais. Impõe-se um novo paradigma, uma nova visão/vivência da realidade, ideias, valores e símbolos que sejam a matriz de uma nova cultura e de uma metamorfose mental que se expresse em todas as esferas da actividade humana, religiosa, ética, científica, filosófica, artística, pedagógica, social, económica e política. Esse paradigma, intemporal e novíssimo, a descobrir e recriar, passa pela experiência da realidade como uma totalidade orgânica e complexa, onde todos os seres e ecossistemas são interdependentes, não podendo pensar-se o bem de uns em detrimento de outros e da harmonia global. Nesta visão holística da Vida, o ser humano não perde a sua especificidade, mas, em vez de se assumir como o dono do mundo, torna-se responsável pelo equilíbrio ecológico do planeta e pelo direito de todos os seres vivos à vida e ao bem-estar.

Herdando a palavra grega para designar o "Todo", bem como o nome do deus da natureza e dos animais, o PAN - Partido pelos Animais e pela Natureza - incarna esse paradigma na sociedade e na política portuguesas.

O objectivo deste blogue é divulgar e fomentar o debate em torno de contributos diversos, contemporâneos e de todos os tempos, para a formulação deste novo paradigma, nas letras, nas artes e nas ciências.

domingo, 13 de março de 2011

Para uma ciência integrada na matriz de uma nova cultura holística – (2ª) breve reflexão

A razão concreta opera dentro de um estreito limite circunscrito pelas representações habituais nas quais estamos mergulhados e servem como ambiente de referência. Deve então haver algum outro instrumento que justifique os voos inspirados dos pensadores arrojados que, numa visão mais abrangente e penetrante do que aquela vigente na época em que viveram, os levou bem mais longe, muito para além da estreiteza das paisagens conceptuais reguladas pelos poderes instalados na altura. A esta ferramenta chama-se intuição-inspiração. Mas essa ferramenta é assaz peculiar, pois por maior que seja o empenhamento devotado à sua procura, enquanto esta for empreendida no exterior, todos os esforços para que seja bem sucedida, serão gorados. De facto, ela reside no âmago original, perfeito e puro do homem – nessas «profundezas do ser universal, anterior e posterior a toda a determinação e representação histórico-cultural»[1] – e a sua descoberta apenas poderá ser realizada numa busca orientada para a prática da virtude e desenvolvimento de sabedoria, num total esquecimento de si, para uma completa entrega à esfera dessa fraternidade universal, de todos e tudo englobante. Daí a necessidade de reconquistar valores como, a preocupação com a vida em todas as suas formas, a preocupação com a verdade, o sentido de justiça, a responsabilidade, o dever de solidariedade, enfim, de toda uma expansão de consciência no sentido da realização do Bem universal que é, afinal, equânime. Assim, que os opostos razão/imaginação, como é da sua natureza, coincidam[2], mas de preferência, «além do arcanjo de espada flamejante da razão dualista»[3]. Que a intuição derramada sobre a razão possa, pois, ser a ferramenta privilegiada da Nova Ciência.

[1] Cf. P. Borges, “Uma Visão Armilar do Mundo”, Verbo, Edição Babel, 2010, Lisboa, p. 206.
[2] Ver, op. cit., p. 213.
[3] Cf., op. cit., p. 213.

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