PAN - UM NOVO PARADIGMA

Vivemos o fim de ciclo de um paradigma civilizacional esgotado, o paradigma antropocêntrico, cuja exacerbação nos últimos séculos aumentou a devastação do planeta, a perda da biodiversidade e o sofrimento de homens e animais. Impõe-se um novo paradigma, uma nova visão/vivência da realidade, ideias, valores e símbolos que sejam a matriz de uma nova cultura e de uma metamorfose mental que se expresse em todas as esferas da actividade humana, religiosa, ética, científica, filosófica, artística, pedagógica, social, económica e política. Esse paradigma, intemporal e novíssimo, a descobrir e recriar, passa pela experiência da realidade como uma totalidade orgânica e complexa, onde todos os seres e ecossistemas são interdependentes, não podendo pensar-se o bem de uns em detrimento de outros e da harmonia global. Nesta visão holística da Vida, o ser humano não perde a sua especificidade, mas, em vez de se assumir como o dono do mundo, torna-se responsável pelo equilíbrio ecológico do planeta e pelo direito de todos os seres vivos à vida e ao bem-estar.

Herdando a palavra grega para designar o "Todo", bem como o nome do deus da natureza e dos animais, o PAN - Partido pelos Animais e pela Natureza - incarna esse paradigma na sociedade e na política portuguesas.

O objectivo deste blogue é divulgar e fomentar o debate em torno de contributos diversos, contemporâneos e de todos os tempos, para a formulação deste novo paradigma, nas letras, nas artes e nas ciências.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

"Apocalypse now"

Os grandes, terríveis e massivos campos de concentração dos animais de criação, o horror dos aviários, onde centenas e milhares de vidas são chocadas, nutridas e engordadas, aos montes, à força e à pressa, umas em cima das outras, sempre expostas à luz, sem dormir, para logo serem levadas, ainda aos magotes, espezinhando-se umas às outras, para o abate! O horror das galinhas e dos perus, degolados e ainda a correrem, sem cabeça! Dos porcos, aos guinchos, de patas atadas, voltados ao contrário para serem esventrados por facas afiadas! Ou arrastados aos montes, por passadeiras mecânicas, para máquinas que lhes apertam e partem os ossos, antes de serem erguidos e suspensos, pelo pescoço, ainda vivos, por agudos ganchos metálicos! Tudo para acabarem, retalhados aos bocados, nos talhos, em embalagens assépticas, nas prateleiras dos supermercados ou em fumegantes, atraentes e apetitosos pratos nas mesas das casas e dos restaurantes. Para alegria de quem despreocupadamente os devora, unicamente interessado no prazer que daí tira, sem saber ou querer saber de toda a dor oculta por detrás de cada garfada. E para lucro das empresas que não recuam perante a macabra publicidade das carnes mortas camuflando a imagem das vítimas estilizada como fofinhos «glu-glus», «quá-quás» e «mé-més».

Paulo Borges, Línguas de Fogo, Ésquilo, 2006, pp.252-253

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