PAN - UM NOVO PARADIGMA

Vivemos o fim de ciclo de um paradigma civilizacional esgotado, o paradigma antropocêntrico, cuja exacerbação nos últimos séculos aumentou a devastação do planeta, a perda da biodiversidade e o sofrimento de homens e animais. Impõe-se um novo paradigma, uma nova visão/vivência da realidade, ideias, valores e símbolos que sejam a matriz de uma nova cultura e de uma metamorfose mental que se expresse em todas as esferas da actividade humana, religiosa, ética, científica, filosófica, artística, pedagógica, social, económica e política. Esse paradigma, intemporal e novíssimo, a descobrir e recriar, passa pela experiência da realidade como uma totalidade orgânica e complexa, onde todos os seres e ecossistemas são interdependentes, não podendo pensar-se o bem de uns em detrimento de outros e da harmonia global. Nesta visão holística da Vida, o ser humano não perde a sua especificidade, mas, em vez de se assumir como o dono do mundo, torna-se responsável pelo equilíbrio ecológico do planeta e pelo direito de todos os seres vivos à vida e ao bem-estar.

Herdando a palavra grega para designar o "Todo", bem como o nome do deus da natureza e dos animais, o PAN - Partido pelos Animais e pela Natureza - incarna esse paradigma na sociedade e na política portuguesas.

O objectivo deste blogue é divulgar e fomentar o debate em torno de contributos diversos, contemporâneos e de todos os tempos, para a formulação deste novo paradigma, nas letras, nas artes e nas ciências.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A que se destinam os rapazes e as raparigas?

- A resposta depende do local onde vivemos. Por exemplo, a que se destinam, na América, os rapazes e as raparigas? Resposta - ao consumo em massa. E os corolários do consumo em massa são as comunicações em massa, os anúncios em massa, os estupefacientes em massa, sob a forma de televisão, de meprobamatos, de pensamentos positivos e de tabaco. E agora, também na Europa onde se começa já igualmente a enveredar pelo caminho da produção em massa, a que se destinam os rapazes e as raparigas? Ao consumo em massa e tudo o mais, tal como acontece com os rapazes e as raparigas da América. Para a Rússia, contudo, a resposta é diferente. Os rapazes e as raparigas destinam-se a fortalecer o estado nacional. Daí, todos os seus engenheiros e professores de ciências, isto para não falar nas cinquentas divisões que eles têm prontas a entrar imediatamente em acção, equipadas com toda a espécie de armamento, desde tanques e a bomba H até aos foguetões de longo alcance. E na China a mesma coisa, mas em dose mais exagerada. E a que se destinam aqui os rapazes e as raparigas? A carne de canhão? A carne para indústria? A carne para a agricultura? A carne para construir estados?  Assim o Oriente é o Oriente e o Ocidente o Ocidente, isto por agora. Mas pode acontecer que ambos venham a encontrar-se num ou noutro ponto dos dois caminhos. O Ocidente pode ter tanto receio do Oriente que vá ao ponto de se esquecer que os rapazes e as raparigas se destinam ao consumo em massa e, decidir, em vez disso, que servem para carne de canhão e para o fortalecimento do estado. Por sua vez, o Oriente pode achar-se sob tal depressão, devido ao mecanismo das massas esfomeadas que anseiam emigrar para o Ocidente, que se veja forçado a mudar de ideias e a dizer que os rapazes e as raparigas servem realmente para o consumo em massa. Mas isto será talvez no futuro. Por agora, as respostas à sua pergunta são mutuamente exclusivas.

Aldous Huxley, A Ilha, Lisboa, Livros do Brasil, 2001, pp.254-255

2 comentários:

Kunzang Dorje disse...

Depois, Sr Menon, personagem do romance, explica para que servem os rapazes e as raparigas de Pala, afirmando que nem ao consumo em massa nem a carne de canhão servem - servem para se realizarem , para se transformarem em seres humanos completamente desenvolvidos. Assim seja!

Paulo Borges disse...

Em Portugal e no mundo todo!

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