PAN - UM NOVO PARADIGMA

Vivemos o fim de ciclo de um paradigma civilizacional esgotado, o paradigma antropocêntrico, cuja exacerbação nos últimos séculos aumentou a devastação do planeta, a perda da biodiversidade e o sofrimento de homens e animais. Impõe-se um novo paradigma, uma nova visão/vivência da realidade, ideias, valores e símbolos que sejam a matriz de uma nova cultura e de uma metamorfose mental que se expresse em todas as esferas da actividade humana, religiosa, ética, científica, filosófica, artística, pedagógica, social, económica e política. Esse paradigma, intemporal e novíssimo, a descobrir e recriar, passa pela experiência da realidade como uma totalidade orgânica e complexa, onde todos os seres e ecossistemas são interdependentes, não podendo pensar-se o bem de uns em detrimento de outros e da harmonia global. Nesta visão holística da Vida, o ser humano não perde a sua especificidade, mas, em vez de se assumir como o dono do mundo, torna-se responsável pelo equilíbrio ecológico do planeta e pelo direito de todos os seres vivos à vida e ao bem-estar.

Herdando a palavra grega para designar o "Todo", bem como o nome do deus da natureza e dos animais, o PAN - Partido pelos Animais e pela Natureza - incarna esse paradigma na sociedade e na política portuguesas.

O objectivo deste blogue é divulgar e fomentar o debate em torno de contributos diversos, contemporâneos e de todos os tempos, para a formulação deste novo paradigma, nas letras, nas artes e nas ciências.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

"Vós pedis-me que trabalhe o solo? Iria eu pegar numa faca e cravá-la no seio de minha mãe?"


Um profeta índio, Smohalla, da tribo Umatilla, recusava o trabalho da terra. «É um pecado», dizia, «ferir ou cortar, rasgar ou arranhar a nossa mãe comum com trabalhos agrícolas.» E acrescentava: «Vós pedis-me que trabalhe o solo? Iria eu pegar numa faca e cravá-la no seio de minha mãe? Mas então, quando eu já estiver morto, ela já não me retomará no seu seio. Pedis-me que cave e desenterre pedras? Iria eu mutilar-lhe as carnes a fim de chegar a seus ossos? Mas então já não poderei entrar no seu corpo para nascer de novo. Pedis-me que corte a erva e o feno, e que o venda, e que enriqueça como os brancos? Mas como ousaria eu cortar a cabeleira de minha mãe?

Mircea Eliade, O Sagrado e o Profano, Lisboa, Livros do Brasil, 2006, p.148

1 comentários:

julio disse...

A inserção do texto de Smohalla visa criticar a agricultura? promover a caça? que coisas comem os smohallianos?

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